Língua Portuguesa -
É comum a sensação de que o estudo dos verbos não dá conta de tudo aquilo de que precisamos para a expressão exata das ações em seus modos e configurações particulares. Isso ocorre porque geralmente o exame do aspecto é negligenciado, como se as categorias de tempo e modo fossem suficientes para entender o verbo em língua portuguesa.
O português não tem uma flexão própria para indicar o aspecto, possível razão de a gramática tradicional não propor o seu estudo sistemático, mas é fato que, mesmo de maneira intuitiva, todos fazemos uso dessa categoria.
O aspecto indica a duração de um processo verbal ou o modo da ação. Em português, expressa-se geralmente por meio de construções perifrásticas (ou locuções verbais), mas está presente também em alguns semantemas verbais, sufixos e prefixos.
Para indicar a repetição de uma ação, por exemplo, existem vários recursos. Um deles é o adjunto adverbial: "Ele disse isso novamente". Outro seria a perífrase: "Ele tornou a dizer isso", que assinala o que chamamos aspecto iterativo. Esse aspecto pode aparecer no prefixo "re-", cujo sentido é o mesmo. Assim: fazer e refazer, nascer e renascer.
A diferença entre chover e chuviscar está na intensidade da ação. Nesse caso, a marca de aspecto está no sufixo. O mesmo se dá com beber e bebericar, cantar e cantarolar. O empenho ou esforço na realização de uma ação também configura um aspecto. Assim: "Ele tentou dizer". É o chamado aspecto conativo. Se a intenção é exprimir um desejo, a perífrase se faz com um auxiliar de aspecto desiderativo: "Ele quis comprar", "ele pretendia voltar" etc. Para realçar o início de uma ação, diz-se: "Ele começou a falar", "ele pôs-se a falar". É o aspecto incoativo.
Quando se trata de obrigação ou compromisso em relação à ação, costuma-se usar: "Ele deve (ou tem de) voltar".
"Acabou de chegar" é locução que exprime aspecto cessativo, enfatizando que a suspensão da ação é recente. Uma construção como: "Está para vir" indica que a ação está prestes a ocorrer.
Há muito a dizer sobre o tema, que aponta para a infinidade de recursos de que dispõe a língua para a expressão das sutilezas da nossa inteligência.
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