Língua Portuguesa -
Existem na língua verbos que precisam de um complemento para que a ação que exprimem tenha sentido completo e outros que prescindem disso. Aos primeiros chamamos transitivos e aos últimos, intransitivos.
Denominam-se transitivos diretos aqueles cujo complemento não é obrigatoriamente preposicionado (objeto direto) e transitivos indiretos aqueles que exigem a preposição diante do complemento (objeto indireto).
Na construção: "Você fuma?", o verbo é intransitivo, ou seja, seu sentido está completo - deseja-se saber apenas se a pessoa em questão é ou não fumante. Não importa saber se fuma, por exemplo, cachimbo ou charuto. Caso isso fosse relevante, as perguntas seriam: "Você fuma cachimbo?" ou "Você fuma charuto?" - e o verbo seria transitivo direto. Aquilo que se fuma é o objeto direto, ou seja, o alvo do processo verbal.
A análise sintática sempre deve levar em consideração o contexto. Um mesmo verbo pode assumir diferentes comportamentos, dependendo da situação.
O objeto direto pode, eventualmente, ser constituído de um substantivo cognato do verbo ou pertencente à mesma esfera semântica dele - e nesse caso será chamado de objeto direto interno ou intrínseco. É o que se lê em sentenças como: "Ele dorme o sono dos justos" ou "Ele vivia uma vida de cão". Convém observar que "dormir" e "viver" são normalmente intransitivos, mas, nessas frases, passam a transitivos diretos.
À primeira vista, as construções podem parecer redundantes, mas a adjetivação do substantivo que funciona como núcleo do objeto direto as valida, reforçando seu caráter notadamente enfático.
A força estilística desse tipo de formulação já foi experimentada por muitos de nossos escritores. Em Gonçalves Dias, lemos: "Morrerás morte vil da mão de um forte" ("I-Juca Pirama"); em Vinicius de Moraes, no tão conhecido e tão belo "Soneto de Fidelidade", está: "E rir meu riso e derramar meu pranto...", verso em que o pronome possessivo atua com força de adjetivo.
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