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Análise do livro "Macunaíma" - Mário de Andrade

Do Stockler Vestibulares*

Atualizada dia 15/03/20108, às 11h13

Valendo-se do seu vasto conhecimento do folclore e da cultura popular brasileira, Mário de Andrade (1893-1945), publica, em 1928, Macunaíma, uma das obras mais importante da 1ª Geração Modernista (1922-1930). O próprio Mário definiu Macunaíma como uma rapsódia, isto é, a reunião, em uma mesma obra, de temas ou assuntos heterogêneos de origem variada.

No "epílogo" de Macunaíma ficamos sabendo que a história fora contada ao narrador pelo papagaio do herói, que aprendera com ele todos os casos de suas aventuras. Teríamos então, na obra, um foco narrativo em primeira pessoa, com um narrador-personagem "ausente", já que ele não aparece na história, senão nesse final. Mas, na prática, o que acontece é que tal narrador se apaga na narrativa. O foco narrativo perceptível é de terceira pessoa, com um narrador-observador das peripécias de Macunaíma. A exceção é o capítulo central, o 9, "Carta pras icamiabas", que se destaca na narrativa por ter um narrador-personagem, o próprio herói, que escreve para suas súditas amazonas, relatando suas experiências em São Paulo e pedindo dinheiro.

Segundo M. Cavalcante Proença, Macunaíma encarna diversos heróis da literatura popular brasileira. Não tem preconceitos, não se prende à moral de uma época. Dessa maneira, concentra em si próprio todas as virtudes e defeitos que nunca se encontram reunidos em um único indivíduo. Por isso é excepcional.

O mesmo autor considera que Macunaíma está fora do espaço e do tempo. Por isso pode realizar aquelas fugas espetaculares e assombrosas em que a capital de São Paulo foge para Ponta do Calabouço, no Rio, e logo já está em Guajará-Mirim, nas fronteiras de Mato Grosso e Amazonas. As fugas são motivo frequente no livro, e sempre com essa revolução espacial, e absoluto desprezo pelas convenções geográficas.

Seguem alguns comentários do próprio autor a respeito da obra:

"O que me interessou por Macunaíma foi incontestavelmente a preocupação em que vivo de trabalhar e descobrir o mais que possa a entidade nacional dos brasileiros. Ora depois de pelejar muito verifiquei uma coisa que parece certa: o brasileiro não tem caráter. Pode ser que alguém já tenha falado isso antes de mim porém a minha conclusão é (uma) novidade pra mim porque junto tirada da minha experiência pessoal palavra caráter não determina apenas uma realidade moral não, em vez entendo a entidade psíquica permanente, se manifestando por tudo, nos costumes, na ação exterior, no sentimento na língua da História da andadura, tanto no bem como no mal.

O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional. Os franceses têm caráter e assim os iorubas e os mexicanos. Seja porque civilização própria, perigo eminente, ou consciência de séculos tenha auxiliado, o certo é que esses uns têm caráter. Brasileiro não. Está que nem um rapaz de vinte anos: a gente mais ou menos pode perceber tendências gerais, mas, ainda não é tempo de afirmar coisa nenhuma. Dessa falta de caráter psicológico, creio, otimistamente, deriva a nossa falta de caráter moral. Daí nossa gatunagem sem esperteza (a honradez elástica / a elasticidade da nossa honradez), o desapreço à cultura verdadeira, o improviso, a falta de senso étnico nas famílias. E sobretudo uma existência (improvisada) no expediente (...).

Este livro afinal não passa duma antologia do folclore brasileiro. Um dos meus interesses foi desrespeitar lendariamente a geografia e a fauna e flora geográficas. Assim desregionalizava o mais possível a criação ao mesmo tempo que conseguia o mérito de conceber literariamente o Brasil como entidade homogênea = um conceito étnico nacional e geográfico.

(Primeiro prefácio escrito por Mário de Andrade para Macunaíma, em Telê Porto Ancona Lopez, ,i>Macunaíma: a margem e o texto)

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