São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2006
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VALE A PENA SABER

GRAMÁTICA

Análise sintática é cobrada no vestibular?

ODILON SOARES LEME
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nota-se, nos atuais vestibulares, que são cada vez mais raras questões que tratam expressamente de análise sintática. E isso é ótimo, desde que não se conclua, a partir daí, que a análise sintática seja uma inutilidade. Aliás, não é de hoje que a análise sintática tem adversários ferozes. Há algum tempo, um intelectual de prestígio se gloriava: "Lembro-me de pouquíssima coisa sobre análise sintática, o que não me faz falta para escrever".
Na realidade, a análise sintática continua com firme presença nos melhores vestibulares, só que cobrada de forma indireta. Vamos entender. Um período constitui uma rede de relações. Identificar, dentro do período, os pares relacionados e detectar o tipo de relação que um termo mantém com outro é condição necessária para a apreensão do significado. Não se pode compreender um período sem essa capacidade de organizar mentalmente os elementos que compõem sua estrutura. Quando essa operação de relacionamento se faz de forma consciente e explícita, com o auxílio de uma nomenclatura com que se identifica a função de cada elemento dentro da estrutura, está-se fazendo o que a gramática chama de análise sintática. Assim, o que se verifica é que a análise sintática não tem sido cobrada expressamente, com todo o seu aparato terminológico, mas o aluno deve resolver questões que supõem a competência para fazê-la.
Por exemplo, são rotineiras questões que versam sobre ambigüidade. Ora, uma das importantes causas de ambigüidade é que determinado termo da oração pode ser relacionado com dois outros, sem que haja elementos suficientes para se decidir por um deles. A frase "Bandido atropela e mata garoto com carro roubado" foi apresentada, em recente vestibular, como ambígua. Por quê? Porque o termo com carro roubado pode ser relacionado com o verbo atropela, e nesse caso será o meio com que o bandido atropela (adjunto adverbial), ou com garoto, e nesse caso será um determinante especificador do nome (adjunto adnominal). Outro exemplo. Em cada alternativa de um teste destaca-se uma palavra na oração, e se pergunta em qual alternativa o verbo deverá ir para o plural, caso a palavra destacada seja colocada no plural. Ora, dar resposta correta a essa questão supõe a capacidade de decidir qual palavra destacada exerce a função de sujeito. E o teste acaba sendo, também, uma questão de concordância verbal.
Como se vê, é preciso, sim, aprender análise sintática.


ODILON SOARES LEME é professor do Anglo, responsável pela vinheta "S.O.S. Língua Portuguesa" da rádio Jovem Pan e autor de "Tirando Dúvidas de Português" e de "Linguagem, Literatura, Redação" (Editora Ática)


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