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Tecnologia - moeda virtual é o dinheiro do futuro?

Vitrine mostra modelos da moeda virtual bitcoin em Hong Kong - Anthony Wallace/AFP
Vitrine mostra modelos da moeda virtual bitcoin em Hong Kong Imagem: Anthony Wallace/AFP

Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação

Pontos-chave

  1. No século 21, novas tecnologias prometem acabar com o dinheiro físico. A tendência é que, nos próximos anos, a sociedade caminhe para um mundo em que não haverá circulação de dinheiro físico e que sejam usadas cada vez mais transações eletrônicas e moedas virtuais.
     
  2. O Bitcoin é uma moeda virtual que ganha cada vez mais popularidade. Em vez de existir uma instituição financeira responsável pelas transações, todas as trocas monetárias ficam no livro de registro virtual Blockchain.
     
  3. Por representar riscos ao controle de fluxos financeiros, países estão tentando criar barreiras para a circulação desse tipo de moeda.


O dinheiro é um símbolo e meio de troca. E também resultado de uma longa evolução. Ao longo da história, a humanidade já usou todo tipo de objetos como moeda: búzios na Arábia, sementes nas Ilhas Salomão, conchas na Suméria.

Na Roma Antiga, o pagamento dos soldados era feito com uma porção de sal. Daí surge a palavra “salário”. No Ocidente, antes de aparecer a cédula impressa, as moedas usadas eram geralmente o ouro, a prata e o cobre.

No início do século 20, os governos nacionalizaram a própria moeda, e o Banco Central de cada país tomaria o papel de criar, implantar e assegurar o suprimento e o destino do dinheiro. Depois que as cédulas são impressas, o dinheiro é repassado pelo governo aos bancos, que o distribui para pessoas e empresas.

Com o surgimento da computação foram inventadas as moedas virtuais, uma forma de dinheiro que não existe fisicamente, ou seja, não é impressa em papel. Cartões de crédito e meios de pagamento online como PayPal e aplicativos para celular são considerados dinheiro virtual, mas que utilizam moedas tradicionais para realizar as transações de pagamento (como o real, euro, libra ou dólar).

No século 21, novas tecnologias e modelos prometem acabar com o dinheiro da forma como você conhece. A tendência é que, nos próximos anos, a sociedade caminhe para um mundo em que não haverá circulação de dinheiro físico.

Em 2015 o dinheiro vivo foi o principal meio de pagamento no mundo. Países da Europa já começam a se preparar para uma nova fase, com menos dinheiro em espécie. Na Suécia, já existem lojas que não aceitam dinheiro.

Este ano, por exemplo, apenas um quinto de todos os pagamentos de consumidores na Suécia foi feito em dinheiro. Já a Dinamarca anunciou que quer se tornar o primeiro país do mundo a eliminar oficialmente a circulação de dinheiro físico.

Os dois países argumentam que é mais fácil fiscalizar o dinheiro eletrônico e assim evitar problemas como a lavagem de dinheiro, a sonegação de impostos gerados pela economia informal e o caixa dois de empresas.

A escalada do Bitcoin

A mudança mais significativa na tecnologia financeira é atribuída às moedas virtuais criptografadas. O maior destaque é o Bitcoin, que pode ser usado para comprar produtos e serviços na internet e em estabelecimentos físicos conectados à rede.

Atualmente é possível comprar quase tudo com bitcoins: eletroeletrônicos, roupas, livros, alimentos. Nos Estados Unidos, até apartamentos e casas já foram vendidos dessa forma.  Em Berlim, na Alemanha, existe um bairro conhecido como bitcoinkiez ("bairro do bitcoin", em alemão), em que todo o comércio local (restaurantes, bares e lojas) está disposto a receber na moeda virtual.

O Bitcoin surgiu em 2008 e sua criação é atribuída a um programador conhecido sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto. A moeda entrou para a história e revolucionou o setor por ser o primeiro sistema de pagamentos global totalmente descentralizado.

Imagine fazer transferências na internet com a mesma facilidade com que se envia um e-mail. O modelo Bitcoin permite realizar transações financeiras de forma direta, sem a necessidade de um intermediário. Um sistema que pode acabar de vez com o banco físico.

Para o usuário, a maior vantagem da descentralização seria a compra e venda com taxas mais baratas do que a de um banco tradicional ou uma empresa de cartão de crédito. Existem ainda usuários que não querem depender das políticas monetárias do governo ou de bancos, e aqueles que buscam fazer uma reserva de valor, sem ficar expostos a riscos como o confisco do dinheiro pelo Estado durante crises financeiras.

O sistema de bitcoins não é controlado por nenhum Banco Central ou instituição bancária, mas por criptografia. É por isso que essa invenção também pode ser chamada de “criptomoeda”. Desde então, outras moedas similares surgiram no mercado.

O controle descentralizado está relacionado ao uso do Blockchain, uma tecnologia de banco de dados que é semelhante a um livro de registros virtual. Não existe um “dono” do sistema, que é aberto a qualquer um.

A Blockchain grava todas as transações realizadas com Bitcoins e garante que uma unidade da moeda não seja utilizada duas vezes. Isso faz com que a moeda virtual não seja falsificada. Cada moeda digital está numerada e todas as transações são públicas e podem ser visualizadas pela comunidade. Na prática, a Blockchain funciona como um livro público, que regula o envio e o recebimento da moeda.

Quem quiser usar o Bitcoin precisa se cadastrar em algum dos sites que trocam dinheiro real por bitcoins, como se fossem uma agência de câmbio. Depois, basta criar uma conta com um código pessoal criptografado e comprar o Bitcoin. O dinheiro fica guardado no computador de cada um, como se fosse um arquivo ou um software.

O modelo é similar ao das redes P2P, usadas para compartilhamento de arquivos na internet. Por isso, controlar a moeda virtual, como fazem os bancos centrais com a moeda real, é muito difícil.

No início, o Bitcoin valia apenas alguns poucos centavos e seu uso estava restrito a um grupo de entusiastas da tecnologia. Mas logo sua popularidade cresceu e a moeda foi se valorizando, atraindo também grandes investidores. Hoje, o Bitcoin tem um grande valor de mercado. Para se ter uma ideia, até a data de fechamento deste texto, o valor de compra de 1 Bitcoin equivale a quase R$ 2 mil.

Quem “fabrica” esse dinheiro? Quem coloca o Bitcoin no mercado são usuários chamados de “mineradores”, que cedem voluntariamente a capacidade de seus computadores via internet para verificar as transações no Blockchain e manter o sistema e funcionando. Em troca, são premiados com bitcoins.

Mas como manter o valor da moeda estável? É preciso que uma moeda seja escassa para que tenha valor e não gere inflação. O Bitcoin foi projetado de modo a ser finito. Isso porque é baseado em fórmulas matemáticas, diferente da moeda tradicional, que é lastreada em ouro e prata. Uma pessoa não pode gerar a moeda infinitamente. Tanto que o sistema do Bitcoin prevê que o máximo de moeda circulando será de 21 milhões de unidades, o que deve acontecer por volta de 2140.

Críticas e riscos ao modelo do Bitcoin

O Bitcoin é baseado em um software de código aberto que permite o anonimato dessas pessoas. Em alguns aplicativos de "carteira virtual" é preciso ter uma conta de e-mail para fazer o registro, já outros (a maioria) não é necessário nenhum tipo de identificação.

Devido a essa dificuldade de rastrear os usuários e oferecer anonimato, a moeda virtual pode estimular o comércio de produtos ilegais. Tanto que o Bitcoin tornou-se a principal moeda dos sites de comércio ilícito na internet profunda (a deep web), com a venda de drogas e armas e atividades de lavagem de dinheiro. Mas a polícia pode identificar o usuário se encontrar o IP dela ou se ela fez qualquer transação de bitcoins em casas de câmbio.

Em 2013, por exemplo, o FBI prendeu o criador do Silk Road, site que funcionava como um grande portal de venda de drogas na internet. As transações eram todas feitas em bitcoins. O site foi fechado e mais de 150 mil bitcoins foram apreendidos pela polícia - o equivalente a 100 milhões de dólares na cotação de março de 2013.

Existe ainda o risco de uma conta ser hackeada. Em 2014, a Mt. Gox, considerada na época como a principal “bolsa de valores” do Bitcoin, entrou em colapso e perdeu 500 milhões de dólares. O motivo? Um ataque hacker ao seu sistema. Em 2016, A Bitfinex, empresa de Hong Kong especialista em gestão de moedas virtuais, reconheceu que uma falha de segurança em suas plataformas permitiu o roubo de 119.756 bitcoins, avaliados em 65,8 milhões de dólares.

O fato de não estar atrelada a governos e bancos faz com que o Bitcoin esteja fora do controle de fiscalização e flutuações cambiais. Por esses motivos, representantes dos bancos centrais afirmaram que a adoção de criptomoedas é um grande desafio para a habilidade dos bancos em influenciar o preço do crédito (juros) para a economia. Ou seja, a adoção em massa dessas moedas poderia enfraquecer o papel do Banco Central como regulador do mercado.

Por representar riscos ao controle de fluxos financeiros, países como a China, Rússia e a Índia estão tentando criar barreiras para a circulação desse tipo de moeda. E como são um fenômeno recente, as moedas virtuais possuem poucas leis que as regulamentam. A legislação mundial sobre o assunto ainda está em construção e deve se consolidar nos próximos anos.

Recentemente, uma juíza federal dos Estados Unidos decidiu que o Bitcoin se qualifica como dinheiro, em ação penal que versava prática de atividade financeira por pessoa não autorizada. No Japão, o governo estabeleceu que os lucros e processos de compra relacionados ao Bitcoin devem estar sujeitos à cobrança de impostos e monitoramento do Estado.

BIBLIOGRAFIA

Bitcoin - a Moeda na Era Digital, por Fernando Ulrich. Editora Mises Brasil.

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