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Queda do Muro de Berlim - 25 anos depois, saiba mais sobre este e outros "muros"

7.nov.2014 - Luzes são acesas em balões da instalação "Lichtgrenze" (Muro de Luz) que marca o antigo curso do Muro de Berlim. A instalação é uma homenagem aos 25 anos da queda do Muro de Berlim, que dividiu a capital alemã entre dois países, a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental, por quase três décadas - Tobias Schwarz/AFP
7.nov.2014 - Luzes são acesas em balões da instalação 'Lichtgrenze' (Muro de Luz) que marca o antigo curso do Muro de Berlim. A instalação é uma homenagem aos 25 anos da queda do Muro de Berlim, que dividiu a capital alemã entre dois países, a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental, por quase três décadas Imagem: Tobias Schwarz/AFP

Andréia Martins

Da Novelo Comunicação

1989 foi um ano em que o mundo mudou. O Brasil realizava sua primeira eleição direta para presidente depois da ditadura; nascia a World Wide Web (www), que só seria difundida para os usuários quatro anos mais depois; o mundo se despedia de figuras de referência como Samuel Beckett e Salvador Dalí. Mas nada marcaria mais o ano como a queda do Muro de Berlim.

Em 1961, a Alemanha viveu uma experiência até então inédita em outros países: viu sua capital, Berlim, ser dividida em dois lados por um muro, com cada lado governado por regimes politicamente contrários simbolizando a divisão do mundo entre os blocos capitalista e socialista, uma herança da Guerra Fria.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

A divisão era resultado do final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a Alemanha foi invadida por todos os lados e ficou dividida em dois países: a Alemanha Ocidental (ou República Federal da Alemanha, a RFA), capitalista e ocupada pelas tropas de Inglaterra, França e Estados Unidos, e a Alemanha Oriental, chamada também de República Democrática Alemã (RDA) - governada pelos comunistas e União Soviética.

Como consequência, a capital, Berlim, também acabou dividida. A cidade ocupava uma posição estratégica, no centro da parte oriental da Alemanha. Por isso, os Aliados pressionaram para que ela fosse dividida em quatro setores, sendo o russo o maior de todos.

Berlim ocidental, apoiada pelos Estados Unidos, tornou- se capital da RFA, enquanto Berlim oriental, com apoio soviético, era capital da RDA. Como o lado ocidental apresentava melhores índices econômicos e de prosperidade, o governo da RDA temia uma fuga em massa dos moradores do lado soviético e decidiu separar a cidade. Primeiro com um arame farpado, depois erguendo um muro de cimento. O resto da história é conhecido.

Até 1989, o muro permaneceu dividindo a cidade e só cairia no dia 9 de novembro daquele ano, representado o fim do regime socialista no país. Fato é que 25 anos após a queda e a unificação do país, ocorrida em 3 de outubro de 1990, a Alemanha saiu de país partido para se tornar líder na Europa, embora ainda veja as regiões leste e oeste divididas economicamente.

Desde a queda do muro, a atividade econômica do leste não acompanha o oeste. Vale lembrar que, logo após o final da 2ª Guerra, os Estados Unidos lançaram o Plano Marshall, plano de ajuda econômica aos aliados o pós-guerra, ação que beneficiou a Alemanha ocidental.

Hoje, o PIB (produto interno bruto) da área que antes formava a Alemanha Oriental corresponde a 67% da produção do lado ocidental. Outros números corroboram o descompasso das regiões: o índice de desemprego, um terço mais alto no leste, e o salário, 20% mais alto na região oeste. Para especialistas da área econômica, embora o leste tenha apresentado certos progressos, essas diferenças ainda são uma herança da divisão do país.

Naquela época, o fim do regime socialista representou o desemprego de 2 milhões de pessoas e enfraqueceu a atividade econômica. Embora algumas cidades do leste tenham apresentado uma evolução -- como, por exemplo, Leipzig, que hoje tem negócios de empresas como Amazon e BMW --, elas são uma exceção. Segundo o governo federal, apenas 10% das grandes empresas instaladas no país oferecem emprego na região leste.

Tentando diminuir esse "atraso", o governo federal da Alemanha criou um plano de apoio, o Pacto de Solidariedade. Hoje em sua segunda fase, que se estenderá até 2019, o plano prevê o repasse de 156 bilhões de euros para o leste. A continuidade e ampliação deste pacto gera divergências entre as autoridades e ainda não foi definida.

Outra questão que coloca os dois lados em ritmos opostos é a idade da população. Como muitos jovens saíram da Alemanha oriental para buscar melhores empregos e condições de vida no lado ocidental, houve um envelhecimento do outro lado. Com isso, estima-se que até 2030 um terço dos moradores do leste tenham mais de 65 anos de idade.

Alemanha: de país dividido ao mais forte da Europa

No ano da queda do muro, a então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, fez uma comentário que podemos chamar de profecia: "Vencemos os alemães em duas oportunidades e aqui estão eles de volta". A declaração, dada após a queda do Muro de Berlim em 1989, fazia referência ao receio de que a reunificação resultasse no predomínio da Alemanha na Europa.

Hoje, o país liderado pela presidente Angela Merkel (que veio da antiga Alemanha oriental), é visto como o líder do continente, especialmente pela forma como reagiu à crise econômica de 2008 e à crise do euro e ainda seu posicionamento frente aos conflitos na Líbia, quando se absteve de votar a favor da intervenção militar, e na Ucrânia, onde o ministro do exterior interveio para evitar uma guerra civil.

A instabilidade de outros países também permitiu que a Alemanha assumisse este papel, como uma França mergulhada em uma crise econômica, o Reino Unido desinteressado pela União Europeia e que enfrenta pedidos de separação de uma parte de seu território, e até mesmo Itália e Espanha, o primeiro com baixos índices de crescimento e o segundo tentando minimizar os efeitos da crise econômica.

Desde 2005, a economia alemã cresceu 11,6% e o país tem uma das mais baixas taxas de desemprego do continente: 5,5%. Como disse o canal de TV alemão Deutsche Welle, um dos mais importantes canais do país, "a Alemanha deixou de ser uma 'criança problema' da Europa, como ainda era vista na virada do milênio, para se tornar o aluno modelo do continente".

Os outros “Muros de Berlim”

A queda do muro na Alemanha não foi o fim de cidades ou países divididos por um concreto. Erguer outros muros foi a solução que muitos países encontraram para, por exemplo, tentar impedir a entrada de imigrantes em seus territórios ou representar a divisão ideológica de um país.

Na região da Cisjordânia há um muro de concreto sendo construído por Israel. Segundo as autoridades israelenses, a barreira física seria uma medida de segurança, mas na prática separa os palestinos dos israelenses. O muro tem 8 metros de altura e cercas elétricas e a passagem é feita apenas em postos militares israelenses. Segundo um relatório da ONU, 62% do muro já foi construído, o que inclui 200 quilômetros. Em 2004, a Corte Internacional de Justiça alegou que a construção é ilegal e violaria o direito internacional. Ela apelou a Israel para destruir o muro, sem sucesso.

A imigração ilegal também levou à construção de muros. No caso dos Estados Unidos, a imigração mexicana sempre foi um problema para o país. O muro construído pelos norte-americanos na fronteira, com 1.130 quilômetros, visa aumentar o controle em relação à imigração e narcotráfico, além de coibir as ações dos chamados “coiotes”, que atravessam clandestinamente pela fronteira.

Conhecido como o muro que divide a Europa do Oriente, o muro construído em 2012 pela Grécia na fronteira da Turquia também visa coibir a entrada de imigrantes ilegais. Segundo estimativas, cerca de 90% dos imigrantes que ingressam de forma ilegal na União Europeia o fazem por meio dessa fronteira.

O Estreito de Gilbratar é uma separação natural entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico. Os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla fazem fronteira com o Marrocos, no norte da África. Ali a Espanha construiu o que ficou conhecido como Muro de Ceuta, que separa Ceuta e Melilla do Marrocos. As cercas buscam aumentar a segurança e impedir a imigração ilegal de africanos à União Europeia. São 8 km de cercas em Ceuta, e 11 em Melilla.

Outra situação de divisão persiste entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Fruto da Guerra Fria (o norte comunista e o sul capitalista), o muro que divide a península coreana em dois países tem 250 quilômetros de extensão. A separação também é ideológica. O norte comunista é um dos locais mais fechados do mundo, enquanto o sul capitalista é uma potência econômica. No terreno onde fica a linha de demarcação, estão enterradas mais de três milhões de minas. É a fronteira mais vigiada do mundo.

 

DIRETO AO PONTO


1989 foi um ano em que o mundo mudou. O Brasil realizava sua primeira eleição direta para presidente depois da ditadura; nascia a World Wide Web (www), que só seria difundida para os usuários quatro anos mais depois; o mundo se despedia de figuras de referência como Samuel Beckett e Salvador Dalí. Mas nada marcaria mais o ano como a queda do Muro de Berlim.

 

25 anos depois da queda, a Alemanha assume um papel de protagonista na Europa, algo que seria impensável naqueles anos de divisão entre bloco capitalista e socialista, uma herança da bipolaridade gerada na Guerra Fria.

 

Embora a região leste, a antiga Alemanha oriental, ainda não acompanhe economicamente a região oeste, o lado ocidental e próspero da Alemanha, o país vem se tornando um exemplo para os demais europeus devido à sua liderança e índices econômicos: contas em dia e um desemprego de 5,5% -- contra o dobro na França, por exemplo. 

 

A experiência vivida em Berlim não impediu que, mais tarde, outros muros fossem erguidos em outros países e regiões para impor uma separação, um bloqueio, como acontece hoje na Cisjordânia, na fronteira entre México e Estados Unidos e nas Coreias do Norte e do Sul, que ainda sustentam a divisão dos tempos de Guerra Fria, capitalismo versus comunismo.

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