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Turbulência - Modelo matemático previu onda de protestos devido a alta de preços dos alimentos

9.fev.2014 - Na Ucrânia, manifestações populares levaram à deposição do presidente Viktor Yanukovytch - Sergey Dolzhenko/EFE
9.fev.2014 - Na Ucrânia, manifestações populares levaram à deposição do presidente Viktor Yanukovytch Imagem: Sergey Dolzhenko/EFE

Carolina Cunha

Da Novelo Comunicação

Nos últimos meses, protestos na rua se tornaram cenas cada vez mais comuns ao redor do mundo. O fenômeno aconteceu na Ucrânia, Síria, Venezuela e Tailândia. Muitos são os motivos dessa instabilidade política, mas, para analistas, a alta do preço dos alimentos pode explicar a eclosão de manifestações em todos esses países.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Em 2011, estudiosos do New England Complex Systems Institute levantaram uma hipótese: o encarecimento da comida poderia ser um fator predominante no início dos protestos em diversos países. O instituto usa a ciência e a matemática a favor da resolução de questões da sociedade, como crises econômicas, violência e políticas públicas.

Para o estudo, intitulado "A crise alimentícia e a instabilidade política no Norte da África e no Oriente Médio", os pesquisadores cruzaram dados da Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO, sigla em inglês) sobre a variação do preço dos alimentos no mundo com notícias de protestos recentes.

O autor da pesquisa, Yaneer Bar-Yam, descobriu que se o índice de preços da FAO aumentasse acima de 210 pontos, a tendência é que protestos emergissem ao redor do mundo. Para ele, o número seria uma espécie de “ponto de ebulição”.

Gráfico com índice da alta do preço da alimentação e o ano de protestos nos países - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Falta de liderança do governo

Segundo o estudo, a alta no preço dos alimentos demonstraria uma falta de liderança por parte do governo que, em situações como essa, perde o apoio popular. "Condições de ameaça generalizada para a segurança [de um país] são particularmente apresentadas quando o alimento fica inacessível para a população em geral", conclui a pesquisa.

A alta dos preços diminui o poder de compra e aumenta a pobreza da população, fatores que contribuem para a instabilidade política. Isso aconteceu em 2008, ano de crise econômica e de elevação nos preços dos alimentos. No Egito, por exemplo, o pão aumentou 50% naquele ano. Em 2008, houve a queda do presidente no Haiti e protestos no Egito, Argentina, Camarões e Moçambique.

A partir desse cruzamento de dados, em 2010, Yaneer Bar-Yam construiu um modelo matemático que previu a Primavera Árabe semanas antes dela acontecer.

No final de 2010, na Tunísia, um vendedor de frutas chamado Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo como protesto, num ato de desespero. Ele não conseguia mais sustentar sua família por causa da alta de preços. O feirante não resistiu aos ferimentos e sua morte provocou uma onda de protestos em 2011. A ação foi considerada a fagulha do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe, uma série de levantes populares em países do Norte da África e Oriente Médio. 

Previsão em 2013

O modelo matemático previu que os preços dos alimentos bateriam recorde de aumento em 2013 e o índice de preços da FAO superaria o patamar de 210 pontos, gatilho para protestos.

Um relatório do instituto listou que os seguintes países teriam maior instabilidade política: África do Sul, Haiti, Argentina, Egito, Tunísia, Brasil, Turquia, Colômbia, Líbia, Suécia, Índia, China, Bulgária, Chile, Síria, Tailândia, Bangladesh, Bahrain, Ucrânia, Venezuela e Bósnia-Herzegovina. A previsão de protestos populares foi comprovada em todos esses países entre o final de 2013 e os primeiros meses de 2014.

Na Suécia, por exemplo, o protesto foi contra o racismo e xenofobia devido a uma alta nos atos de violência cometidos por neonazistas. Em fevereiro de 2014, protestos contra o governo também eclodiram na Bósnia-Herzegóvina, que viu levantes populares como não se viam desde o fim da guerra de 1992-1995, e Venezuela, boa parte dessas manifestações é contrária ao governo do atual presidente Nicolas Maduro.

Alta de alimentos

Segundo a FAO, o preço geral de alimentos aumentou cerca de 75% desde a virada do século. Isso se deve a diversos fatores: aumento da demanda, aumento dos custos de insumos para a produção, mudanças climáticas, aumento da produção de biocombustíveis, entre outros.

Em 2008, um relatório da ONU projetou que os preços dos alimentos devem se estabilizar somente em 2017.

No Brasil, a tendência atual é de aumento da inflação, ainda que longe dos índices da década de 1980 ou de provocar uma crise econômica grave. Em março deste ano, os gêneros alimentícios foram a categoria que mais puxou a inflação para cima. É difícil avaliar a relação desses índices com os recentes protestos brasileiros. Ainda assim, o aumento dos preços deve ser um tema importante no debate político.

DIRETO AO PONTO

Em 2011, estudiosos do New England Complex Systems Institute levantaram a hipótese de que o aumento no preço dos alimentos poderia ser um fator predominante na eclosão dos protestos em diversos países. O instituto cruzou dados da FAO (Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas) sobre a variação do preço dos alimentos no mundo com notícias de protestos recentes.

 

O autor da pesquisa, Yaneer Bar-Yam, descobriu que se o índice de preços da FAO aumentasse acima de 210 pontos, a tendência é que protestos emergissem ao redor do mundo. Isso aconteceu em 2008, ano de crise econômica. Em 2010 Yaneer Bar-Yam construiu um modelo matemático, que previu a Primavera Árabe semanas antes dela acontecer, em 2011.  

 

O modelo também previu que em 2013, os preços dos alimentos bateriam recorde de aumento. Um relatório do instituto listou que os seguintes países teriam maior instabilidade política: África do Sul, Haiti, Argentina, Egito, Tunísia, Brasil, Turquia, Colômbia, Líbia, Suécia, Índia, China, Bulgária, Chile, Síria, Tailândia, Bangladesh, Bahrain, Ucrânia, Venezuela e Bósnia-Herzegovina. Poucos meses depois, esses países viram emergir conflitos e protestos de rua.

 

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