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Mundo islâmico - Filme gera tumultos antiamericanos

Peregrinos islâmicos na Grande Mesquita, em Meca, na Arábia Saudita, onde fica a Kaaba (o cubo negro no centro da foto), lugar mais sagrado do Islamismo. Atualmente, há cerca de 1,6 bilhão de muçulmanos em todo o mundo, que correspondem a quase 25% da população mundial, estimada em 7 bilhões (Fonte: Pew Forum on Religion & Public Life, 2012)   - Wikimedia commons
Peregrinos islâmicos na Grande Mesquita, em Meca, na Arábia Saudita, onde fica a Kaaba (o cubo negro no centro da foto), lugar mais sagrado do Islamismo. Atualmente, há cerca de 1,6 bilhão de muçulmanos em todo o mundo, que correspondem a quase 25% da população mundial, estimada em 7 bilhões (Fonte: Pew Forum on Religion & Public Life, 2012) Imagem: Wikimedia commons

José Renato Salatiel*, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Atualizado em 24/09/2012, às 11h52.

Protestos contra os Estados Unidos espalharam-se nesta semana por mais de vinte países islâmicos, em dois continentes, deixando 30 mortos. O motivo da crise foi um vídeo contendo material considerado ofensivo à religião muçulmana. As cenas foram divulgadas na internet no dia do aniversário de onze anos dos ataques do 11 de Setembro.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Na mesma noite, o embaixador americano na Líbia, Christopher Stevens, morreu em um ataque ao consulado dos Estados Unidos em Benghazi, segunda maior cidade líbia. Outros três funcionários do corpo diplomático também morreram no prédio da embaixada, que foi incendiado. Essa foi a primeira morte de um diplomata americano em três décadas.

Nos dias seguintes, outras embaixadas americanas foram alvo de manifestações em países árabes e de maioria muçulmana, no norte da África e na Ásia central e meridional. Entre eles, Egito, Tunísia, Sudão, Iêmen, Irã, Iraque, Afeganistão, Indonésia e territórios palestinos.

Não por acaso, o “mapa” dos tumultos coincide, em parte, com o palco da onda de protestos pró-democracia do ano passado, a chamada “Primavera Árabe”. Nessas nações, a queda de regimes ditatoriais gerou instabilidade política e fortalecimento de grupos islâmicos radicais, que agora insuflam a ira contra os americanos.

Um dos casos mais exemplares é o do Egito. Pressionado por manifestações populares, o presidente Hosni Mubarak renunciou ao cargo no dia 11 de fevereiro, encerrando três décadas de ditadura. Em junho, no segundo turno das primeiras eleições livres da história do país, o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi, venceu as eleições presidenciais.

A Irmandade Muçulmana é um dos movimentos que segue o fundamentalismo islâmico moderno, surgido nos anos 1980, que defende um Estado baseado nos princípios do Islã. Para os fundamentalistas, os Estados Unidos são vistos como inimigo por apoiar Israel nos conflitos contra os árabes e pelo histórico de intervenções militares na região.

YouTube

Nesse contexto, o vídeo polêmico tornou-se o estopim de novas revoltas. O vídeo de 14 minutos, veiculado no YouTube, contém cenas de um filme amador. A película foi produzida nos Estados Unidos e intitulada A Inocência dos Muçulmanos. As cenas mostram o islamismo como uma seita de fanáticos, e o profeta Maomé como um homem violento, pedófilo e bissexual. Os muçulmanos consideraram o filme uma blasfêmia.

Dois dias depois da divulgação, o diretor Sam Bacile foi identificado como Nakoula Basseley Nakoula, um cristão copta (egípcio) de 55 anos que vive na Califórnia e já foi condenado por fraudes em 2010. Atores disseram que foram enganados pelo diretor, que não teria revelado, durante as filmagens, o teor religioso da produção. O presidente Barack Obama e sua secretária de Estado, Hilary Clinton, criticaram o filme.

Charges

Não é a primeira vez que insultos ao islamismo provocam protestos no mundo. Em 30 de setembro de 2005, o jornal Jyllands-Posten, de maior tiragem na Dinamarca, publicou 12 caricaturas intituladas “As faces de Maomé”.

As charges provocaram manifestações violentas, incêndio em embaixadas dinamarquesas e uma crise diplomática com países árabes. O redator-chefe do jornal, ameaçado de morte, pediu desculpas publicamente.

Em setembro de 2010, o pastor Terry Jones despertou a atenção mundial por seu plano de queimar exemplares do Corão no aniversário dos atentados terroristas do 11 de Setembro. Após as fortes reações no mundo muçulmano e das críticas de líderes internacionais, Jones desistiu da ideia.

Mas em 20 de março de 2011 ele voltou atrás e cumpriu o prometido em uma igreja na Flórida, diante de 50 fiéis. Em reação, houve protestos no Afeganistão que deixaram vinte mortos, entre eles sete funcionários da ONU.

Ambos os casos voltaram a se repetir este ano. Em abril Terry Jones queimou exemplares do livro sagrado do Islamismo. Mais recentemente, no último dia 19, o semanário de humor francês Charlie Hebdo publicou charges do profeta Maomé que contribuíram para aumentar a tensão no mundo árabe. Preocupado com a repercussão, o governo francês anunciou o fechamento temporário de suas embaixadas e escolas em 20 países.

Consequências políticas

Essa nova onda de protestos é relevante porque afeta a política externa dos Estados Unidos em suas relações com o Oriente Médio. Ela pode também ter consequências nas eleições presidenciais americanas deste ano.

Quando Barack Obama assumiu a Presidência, em janeiro de 2009, ele mudou os rumos da política isolacionista e beligerante de seu antecessor, George Bush, cujo governo promoveu a invasão do Iraque e do Afeganistão. Essas guerras foram respostas aos atentados terroristas de 2001.

Agora, a mudança dos rumos políticos no Oriente Médio compromete os esforços diplomáticos na região. Os atos antiocidente podem ser ainda usados por adversários políticos, uma vez que a campanha de reeleição de Obama se baseia, em parte, no sucesso da abertura do diálogo com os povos islâmicos.

 

Fique Ligado

Por trás dos fatos relatados aqui, encontram-se alguns temas fundamentais que marcaram a história do mundo no início do século 21: a emergência do fundamentalismo islâmico e o choque entre essa civilização e o mundo ocidental, que se dá em geral por meios violentos, como o terrorismo e as guerras. Saiba mais sobre essas questões:

Islamismo

Terrorismo

Guerra do Afeganistão

Direto ao ponto

Um vídeo divulgado na internet com cenas de um filme considerado ofensivo à religião muçulmana gerou uma nova onda de protestos no mundo árabe nesta semana. Em cinco dias de atos contra embaixadas americanas, 30 pessoas foram mortas, entre elas um diplomata americano na Líbia.

 

As manifestações ocorreram principalmente em países árabes que foram palco da “Primavera Árabe” em 2011. Na época, a população depôs tiranos que ocupavam o governo por décadas, reivindicando mudanças políticas e democracia.

 

O problema é que o fim das ditaduras fortaleceu grupos fundamentalistas islâmicos, que veem os Estados Unidos como inimigo, tanto pelo apoio de Washington à Israel quanto pelas campanhas militares em países de maioria muçulmana, como Iraque e Afeganistão.

 

O filme é uma produção amadora, dirigido por um egípcio radicado na Califórnia. Nele, o profeta Maomé é retratado como violento, pedófilo e bissexual, o que provocou a ira dos muçulmanos.

 

A nova onda de protestos afeta os esforços diplomáticos de retomada do diálogo com o Oriente Médio e pode prejudicar a campanha de reeleição de Barack Obama.

 

Veja errata.

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