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Guerra no Afeganistão - As armas da diplomacia contra o terror

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

A luta contra o terrorismo internacional ganhou um endereço fixo: Afeganistão, nação pobre, devastada por 30 anos de ocupação estrangeira e que se tornou refúgio de Osama Bin Laden, o terrorista mais procurado do mundo.

O país também foi eleito o cenário da "guerra de Obama", desde que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, redirecionou esforços militares para a região, do mesmo modo que George W. Bush, seu antecessor na Casa Branca, fez com o Iraque.

Graças à recente incursão diplomática de Obama no continente europeu, a campanha recebeu apoio importante dos países integrantes da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que enviarão mais 5.000 soldados para sufocar a rede terrorista Al Qaeda e conter o grupo radical islâmico Taleban. Hoje, a Otan mantém no país cerca de 70 mil soldados, mais da metade norte-americanos.

A guerra no Afeganistão foi o principal tema da reunião de cúpula da Otan, realizada nos dias 3 e 4 de abril de 2009 na França e na Alemanha. Na prática, os países europeus que compõem a aliança ratificaram o projeto dos Estados Unidos de "pacificação" do país asiático por meio da reconstrução social.

Dado o histórico e a geopolítica da região, a tarefa não será nem rápida nem tão simples assim.



O que é a Otan

A Otan é uma organização militar internacional criada há 60 anos, em 4 de abril de 1949, durante a Guerra fria, com a finalidade inicial de impedir o avanço do comunismo na Europa. Inicialmente, era formada por 12 países. Com as recentes adesões de Albânia e Croácia, conta hoje com 28 nações.

Na época, o mundo estava dividido em dois blocos econômicos e militares distintos: o bloco capitalista, representado pelos Estados Unidos, e o socialista, da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), países que saíram fortalecidos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Temendo a influência dos soviéticos sobre a Europa, os governos ocidentais uniram forças.

Mas foi somente com o fim da Guerra Fria que ocorreram as intervenções bélicas da Otan, primeiro na ex-Iugoslávia, para impedir o massacre da população albanesa de Kosovo, em 1999, e depois em 2006, quando as forças de coalizão assumiram a segurança em Cabul, capital afegã.



Ópio e terror

O século 20 deixou marcas indeléveis no Afeganistão, essenciais para entender o mundo contemporâneo, além de exemplos de como políticas equivocadas podem trazer problemas de difíceis soluções para gerações futuras.

O Afeganistão é um país localizado na Ásia central e que faz fronteira com Paquistão, Irã e China, entre outros países. Possui estimados 32,7 milhões de habitantes, 70% vivendo com menos de US$ 1 por dia.

O país é constituído por diferentes tribos e grupos étnicos, o que torna difícil a centralização do poder. Por esta razão, tem na religião islâmica (80% sunitas e o restante xiitas) o único elemento aglutinador da sociedade.

A atividade econômica primária é a agricultura, apesar de somente 10% das terras, desérticas e montanhosas, serem cultiváveis. A maior renda vem do ópio (matéria prima da heroína), que concentra 93% da produção mundial e corresponde a 30% do PIB (Produto Interno Bruto) do Afeganistão.

Atualmente, 16 das 34 províncias cultivam a papoula, planta da qual se extrai a substância. A produção, que quase quintuplicou desde a ocupação americana em 2001, é uma das principais fontes de renda do Taleban.



Rússia e CIA

No final dos anos 1970, a posição estratégica colocou o Afeganistão no centro da disputa ideológica da Guerra Fria. Uma sucessão de golpes de Estado terminou com o fim da neutralidade, até então preservada em relação ao conflito.

A deposição de um presidente alinhado com Moscou, em 1979, motivou a invasão das tropas soviéticas. A ocupação duraria até 1989, deixando milhares de mortos e prejuízos de bilhões de dólares.

Durante esse período, os russos enfrentaram a resistência dos mujahedin (combatentes islâmicos), que contavam com apoio financeiro e militar da CIA, o serviço secreto norte-americano. De certa forma, o Taleban é fruto da política externa norte-americana.

Quando o exército vermelho finalmente desocupou Cabul, o governo perdeu a sustentação e, no início dos anos 1990, o país foi assolado por uma guerra civil entre facções rivais. Nesse clima de insegurança, o Taleban, um grupo de jovens religiosos refugiados no Paquistão, assumiu o poder em 1996.



Bin Laden

O Taleban só se tornou uma ameaça aos Estados Unidos dois anos depois, quando a rede Al Quaeda, de Osama Bin Laden, foi responsabilizada pelos atentados às embaixadas americanas em Quênia e Tanzânia, que deixaram 224 mortos.

Após o massacre, o grupo islâmico passou a abrigar o terrorista. Para pressionar Cabul a entregar Bin Laden, a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou um embargo econômico, ao mesmo tempo em que Washington autorizou bombardeios ao território afegão.

Finalmente, com os ataques de 11 de Setembro, em 2001, os Estados Unidos ocuparam a capital e depuseram o governo dos talebans, que buscaram abrigo nas montanhas.

Apesar do governo constituído em 2004 com apoio da Casa Branca - Hamid Karzai foi eleito com 55% dos votos para um mandato de cinco anos -, os extremistas islâmicos controlam hoje cerca de 70% do território afegão.



Desafios

O objetivo de Barack Obama é reestruturar a economia e a política de Cabul, preparando o país para a retirada das tropas americanas. Para isso, autorizou o envio de mais 4.000 homens, além de 17 mil previstos, para os próximos meses.

Com mais o efetivo da Otan, o plano é treinar o exército afegão, mal remunerado e despreparado, para manter o domínio sobre os talebans. Também foi anunciado o envio de verbas para o Paquistão combater focos terroristas.

Há dúvidas, entretanto, se os recursos serão suficientes para trazer estabilidade a um país que há décadas só conhece a guerra e que não parece disposto a abrir mão nem da fé de grupos extremistas nem da produção de ópio.

Outro desafio é enfrentar a complexa geopolítica da região, que vai obrigar os Estados Unidos a afinarem a diplomacia, por exemplo, com um arquiinimigo como o Irã.

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