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Futebol - Falta de regas e de transparência nos órgãos dirigentes facilita a corrupção

Joseph Blatter anuncia sua saída da Fifa, após suspeita de corrupção  - REUTERS/Ruben Sprich
Joseph Blatter anuncia sua saída da Fifa, após suspeita de corrupção Imagem: REUTERS/Ruben Sprich

Andréia Martins

da Novelo Comunicação

No Brasil, o futebol é paixão nacional no Brasil. No mundo, o esporte também é o mais popular e mistura diferentes classes sociais. No entanto, ao longo dos últimos anos, o futebol se transformou em um negócio multimilionário mundial.

O novo capítulo dessa história começou a ser escrito em maio deste ano, quando uma investigação do FBI, a polícia federal norte-americana, e a polícia suíça revelou um escândalo de corrupção envolvendo o órgão máximo do futebol mundial, a Fifa (Federação Internacional do Futebol), e outras entidades como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Concacaf (Confederação da América do Norte, América Central e Caribe de Futebol) e Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol).

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Dirigentes e ex-cartolas do alto escalão da entidade, como o ex-presidente da CBF, José Maria Marín, foram presos acusados de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro em contratos comerciais de patrocinadores e compra de votos para a escolha das sedes da Copa Mundo na Rússia (2018) e no Catar (2022). A investigação leva em conta apenas as transações financeiras que passaram pelos EUA, uma quantia avaliada em cerca de US$ 150 milhões.

Segundo o FBI, cerca de US$ 10 milhões teriam sido pagos pela África do Sul para sediar a Copa de 2010, deixando Marrocos de lado. A escolha do Mundial de 2018, que será na Rússia, também é investigada. As copas América e Libertadores, campeonatos que o Brasil participa, são citadas na investigação, mas o relatório não menciona a Copa de 2014, sediada no Brasil.

O símbolo mais emblemático da crise é a queda do poderoso Joseph Blatter, o presidente da Fifa, que renunciou ao cargo após as denúncias de corrupção e que estava no poder desde 1998. Quando ele assumiu, a Fifa ocupava um pequeno prédio em Zurique. Hoje, as reservas financeiras da entidade chegam a US$ 1,5 bilhão.

O caso Fifa abre ainda outras janelas, entre elas, acusações de supostas violações de direitos humanos, no caso da votação que escolheu o Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022. Grupos que defendem os direitos humanos questionam as condições de trabalho dos imigrantes no Catar nas obras dos estádios. Outra crítica é que a sede da competição possui temperaturas médias de 50 graus no verão.

Segundo a imprensa britânica, o número de trabalhadores que morreram nas obras para o torneio chegaria a 1.200 nos últimos quatro anos. Além da insegurança, esses trabalhadores seriam submetidos a intensas horas de trabalho sob um forte calor e sem acesso a direitos trabalhistas. O Catar nega as acusações.

O lucro em cima da venda de direitos de uso de imagem de seleções, clubes e jogadores a empresas, contratos de direitos de transmissão para veículos de comunicação e transferências de jogadores entre clubes de um país a outro tem gerado mais interesse pelas altas quantias de dinheiro que movimentam do que o futebol em si. Sem grandes regras para a gestão desses negócios, o que se vê no futebol é um ambiente favorável à corrupção e irregularidades. O que os governos de diversos países esperam agora é a maior transparência nas contas e nas negociações do setor.

Um exemplo é a transação envolvendo a venda do brasileiro Neymar, do Santos para o Barcelona. O clube é acusado de ter informado um valor inferior ao total verdadeiro da transação e o ex-presidente do Barcelona é suspeito de ter desviado 40 milhões de euros a uma empresa do pai do jogador. O caso está sendo julgado em Madri, na Espanha. Em 2014, o clube catalão já havia sido punido por transferir dez atletas menores de idade, o que é proibido.

No Brasil, clubes enfrentam altas dívidas

Se essas irregularidades acontecem em um dos maiores times do mundo, pode-se imaginar a consequência da falta de regras e de boas condutas de gestão a outros times. No Brasil, o lucrativo marketing em torno jogadores não refletiu na modernização dos clubes, que hoje vivem uma grave crise financeira, com dívidas superando R$ 4 bilhões.

Para tentar reverter essa situação, o governo federal assinou uma medida provisória que prevê o refinanciamento das dívidas dos clubes. Pela nova lei, as agremiações, anualmente, não podem gastar mais do que 70% da sua receita bruta com o departamento de futebol – o que não acontece em grandes clubes como Cruzeiro, Corinthians, Internacional, Grêmio, Santos, Botafogo e Palmeiras, por exemplo – e parcelar suas dívidas com a União em até 240 meses. O descumprimento da regra prevê rebaixamento dos clubes.

Ainda em andamento no Congresso, a MP do Futebol, que inclui os tópicos citados acima, prevê a obrigatoriedades dos clubes em publicar seus demonstrativos contábeis auditados, pagar em dia os funcionários e tributos previdenciários, trabalhistas e contratuais, inclusive direitos de imagem. Além disso, os times terão de respeitar as regras de transparência da Lei Pelé (Lei 12.868). Esses temas ainda geram controvérsias entre parlamentares e dirigentes de clubes, que acham tais medidas excessivas.

A aprovação do texto da MP seria uma das vitórias do Bom Senso FC, grupo criado por jogadores e ex-jogadores do futebol nacional para promover melhorias no esporte e na sua gestão no Brasil, bem como mudanças no calendário das competições.

No momento em que o futebol passa por uma crise de credibilidade, ver jogadores questionando, pedindo melhorias e querendo participar mais das decisões do setor, pode ser, enfim, um ponto positivo da situação.

DIRETO AO PONTO

Uma investigação do FBI, a polícia federal norte-americana, e da polícia suíça revelou um escândalo de corrupção envolvendo o órgão máximo do futebol mundial, a Fifa (Federação Internacional do Futebol), e outras entidades como a CBF, Concacaf e Conmebol.

Dirigentes e ex-cartolas, como o ex-presidente da CBF, José Maria Marín, foram presos acusados de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro em contratos comerciais de patrocinadores e compra de votos para a escolha das sedes da Copa Mundo.

O caso coloca o esporte mais popular do mundo em julgamento: o negócio milionário em que se tornou o futebol nos últimos anos beneficia pequena parte de clube e jogadores e, em muitos países, não modernizou sua estrutura, como acontece no Brasil, onde os clubes estão muito endividados. 

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