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Extrema direita - Eleições no Parlamento Europeu refletem avanço do conservadorismo

14.nov.12 - Manifestantes queimam uma bandeira da União Europeia e outra italiana em Turim, na Itália. Eles protestam contra as medidas adotadas pelos governos europeus para tentar superar a crise econômica, incluindo corte de gastos e aumento de impostos - Alessandro Di Marco/Efe
14.nov.12 - Manifestantes queimam uma bandeira da União Europeia e outra italiana em Turim, na Itália. Eles protestam contra as medidas adotadas pelos governos europeus para tentar superar a crise econômica, incluindo corte de gastos e aumento de impostos Imagem: Alessandro Di Marco/Efe

Carolina Cunha

Da Novelo Comunicação

Peste é o nome dado a uma epidemia descontrolada, que se espalha rapidamente entre um grande número de pessoas e que, quase sempre, é letal. É assim que opositores vêm chamando a ascensão dos partidos ultraconservadores na França: “peste brune” -- em francês, “Vague brune”--, ou praga marrom, expressões que retomam o modo como os franceses se referiam ao nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, uma alusão à cor do uniforme dos soldados alemães.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

A onda de ascensão dos partidos de extrema direita acontece não só na França, mas em boa parte da Europa. O resultado das eleições para o Parlamento Europeu de 2014, que aconteceram em maio e cuja nova legislatura começa em julho, confirmou essa tendência e lançou um alerta: o crescimento expressivo da extrema direita e dos eurocéticos (que são contra a existência da União Europeia) no continente.  

O Parlamento Europeu é uma instituição responsável por elaborar as leis, propostas e o orçamento da União Europeia, o maior bloco econômico do mundo e que adotou o euro como moeda única. O órgão possui 751 parlamentares oriundos dos 28 Estados-membros.

Bandeiras da extrema direita e seus principais partidos

 

Os partidos de extrema direita da Europa diferem em poucas posições. Com inclinações nazifascistas ou nacionalistas, a maioria defende o fim da moeda do euro, o fortalecimento da unidade e identidade dos países, políticas mais radicais para imigrantes, criticam o resgate financeiro de países em crise, são contra direitos LGBT, aborto, liberalismo e globalização, e combatem o que 

chamam de islamização.


Principais legendas: Partido Nacional Democrata Alemão (NPD), Partido dos Verdadeiros Finlandeses, Aurora Dourada (Grécia), Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), Frente Nacional (França), Partido da Liberdade da Áustria (Áustria), Jobbik (Hungria), Partido Popular da Dinamarca. 

Com os resultados das eleições deste ano, os partidos de centro-direita vão compor a maior bancada. Os socialistas estão em segundo e registraram queda em relação aos anos anteriores. O maior destaque é o grupo de eurocéticos radicais, que ganharam cadeiras no parlamento. Neste grupo, alinhado à extrema direita, destacam-se os partidos Ukip (Partido da Independência do Reino Unido), a Frente Nacional, da França, e o Movimento 5 Estrelas, da Itália. Entre os países com maior adesão do eleitorado a legendas mais conservadoras estão França, Inglaterra e Dinamarca (entre 25% e 30% de votos). Suíça e Áustria também apresentam números altos, com mais de 20% de votos.

De modo geral, esses partidos ultraconservadores e eurocéticos defendem ideias como o fim da União Europeia e da moeda do euro, que para eles são responsáveis pela perda de soberania e identidade nacional dos países do bloco, e o controle mais rígido de imigração, colocando nas costas dos imigrantes a culpa pelo desemprego e pelo aumento da violência. Apesar de defenderem a extinção do bloco, o motivo de se candidatarem a vagas no Parlamento Europeu seria uma forma de obter visibilidade política.

Um detalhe importante é que alguns desses novos partidos compõem o que especialistas chamam de nova extrema direita, e não buscam se associar àquela extrema direita fascista. Se por um lado, na agenda econômica, esses partidos não são muito diferentes do que propõem as legendas de direita, algumas legendas diferem em alguns pontos nas agendas política e social. Isso pode ser visto em algumas propagandas desses partidos negando o racismo e reforçando que são a favor da pluralidade racial.

Analistas avaliam que entre os principais motivos da ascensão dos partidos conservadores estariam a atual crise financeira (o que não se aplica a países como Espanha, Portugal e Grécia, muito afetados pela crise, mas onde os partidos de extrema direita são mais fracos) e a falta de confiança dos mercados financeiros internacionais com relação ao bloco.

Com a crise econômica que atinge a Europa desde 2008, os países-membros da UE em crise tiveram que cumprir metas de austeridade fiscal e efetuar cortes nas contas públicas. Com mais de 25 milhões de desempregados no continente, o ressentimento e a descrença da população nos políticos aliado a vontade de mudanças pode fortalecer partidos com agendas conservadoras.

Desde 2011, um grupo de pesquisadores britânicos do British Thinktank Demos estuda esse avanço de legendas conservadoras. O que chama atenção nas projeções feitas é a crescente adesão dos jovens europeus a movimentos nacionalistas, principalmente através da internet. Segundo o estudo, os jovens revelam-se cada vez mais críticos para com os seus governantes e a União Europeia, preocupados com o futuro (emprego e educação), a identidade cultural e a influência islâmica na Europa.

Historicamente, a extrema direita perdeu espaço na Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Com a criação da União Europeia, ela reapareceu, batendo na tecla de antigas bandeiras como o resgate da identidade dos países europeus, a imigração e o combate ao desemprego.

Os partidos de extrema direita na França, Reino Unido e Itália

Na França, o partido de extrema-direita FN (Frente Nacional), liderado por Marine Le Pen, tornou-se a maior força política do país e obteve 26% dos votos nas eleições (contra 6% nas anteriores), enquanto o Partido Socialista, do atual presidente francês François Hollande, teve apenas 14%. Seus apoiadores defendem a saída da França da União Europeia, o fim do euro e leis rígidas contra a imigração, um problema frequente entre os franceses.

Marine Le Pen é famosa pelo discurso antiestrangeiro e já declarou que é preciso “proteger” a França e suas fronteiras dos imigrantes. Em 2013, ela causou polêmica ao comparar a presença de mulçumanos no país à invasão nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Seu pai, Jean-Marie Le Pen, presidente honorário e primeiro líder do partido, recebeu críticas ao declarar, recentemente, que o vírus fatal ebola pode ajudar a "resolver" o problema do crescimento demográfico e da imigração na França.

O baixo desempenho da economia francesa e o alto índice de desemprego, hoje em 10%, também influenciou o resultado eleitoral, assim como a abstenção em massa dos eleitores socialistas nas eleições, que deixaram de votar como forma de protesto contra o atual governo de Hollande.

Na Inglaterra, o britânico Nigel Farage, líder do Ukip (Partido da Independência do Reino Unido), é a grande estrela das eleições. O partido também defende o fim da União Europeia e o controle mais rígido de imigração e afirma que a única maneira do Reino Unido evitar o aumento da entrada de estrangeiros é abandonar a UE e as regras de livre circulação do bloco. Pesquisas avaliaram que o Ukip atraiu eleitores de outros partidos explorando essa questão da imigração. 

Do lado italiano, o nome de Beppe Grillo, ex-comediante, está por trás da ascensão dos conservadores. Em 2009, ele criou um partido político denominado M5S (Movimento 5 Estrelas), que tem feito bastante sucesso no eleitorado italiano. Ele se denomina como oposição a todos os partidos italianos e ao atual governo do primeiro-ministro Matteo Renzi. O M5S ficou em segundo lugar nas eleições europeias na Itália e elegeu 17 eurodeputados. Ao lado do Ukip, formou o bloco EFD (Europa da Liberdade e Democracia), que no parlamento tentará bloquear qualquer medida que aumente a integração entre os países do bloco.

Na Alemanha, um dos mais importantes países do bloco da UE, o partido dos democrata-cristãos liderados pela atual chanceler Angela Merkel alcançou a maioria dos votos (35,3%). No entanto, esse é o pior resultado do partido desde 1979. Já os eurocéticos da AfD (Alternativa para a Alemanha), fundado em 2013, obtiveram um importante resultado, conquistando 7% dos votos. Um índice pequeno, mas que mostra que uma legenda que antes não tinha relevância no jogo político, começa a atrair atenção. 

DIRETO AO PONTO

 

O resultado das eleições para o Parlamento Europeu de 2014, que aconteceram em maio e cuja nova legislatura começa em julho, confirmou essa tendência e lançou um alerta: o crescimento expressivo da extrema direita e dos eurocéticos (que são contra a existência da União Europeia) no continente.  


Com os resultados das eleições deste ano, os partidos de centro-direita vão compor a maior bancada. Os socialistas estão em segundo e registraram queda em relação aos anos anteriores. O maior destaque é o grupo de eurocéticos radicais, que ganharam cadeiras no parlamento. Neste grupo, alinhado à extrema direita, destacam-se os partidos Ukip (Partido da Independência do Reino Unido), a Frente Nacional (França) e o Movimento 5 Estrelas (Itália).


De modo geral, esses partidos ultraconservadores e eurocéticos defendem ideias como o fim da União Europeia e da moeda do euro, que para eles são responsáveis pela perda de soberania e identidade nacional dos países do bloco, e o controle mais rígido de imigração, colocando nas costas dos imigrantes a culpa pelo desemprego e pelo aumento da violência.


Com a crise econômica que atinge a Europa desde 2008, os países-membros da UE em crise tiveram que cumprir metas de austeridade fiscal e efetuar cortes nas contas públicas. Com mais de 25 milhões de desempregados no continente, o ressentimento e a descrença da população nos políticos aliado a vontade de mudanças pode fortalecer partidos com agendas conservadoras.
 

 

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