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Aquecimento global - o que acontece se a temperatura do mar esquentar e as calotas polares derreterem?

Michael Melford/National Geographic Creative
Imagem: Michael Melford/National Geographic Creative

Carolina Cunha

da Novelo Comunicação

Você já deve ter visto fotografias de ursos polares acuados em um iceberg que parece estar se desmanchando. Essas imagens refletem um dos problemas das mudanças climáticas, o derretimento das camadas polares. O aquecimento global está esquentando a Terra e a temperatura tende a subir ainda mais nos próximos anos. Cientistas do IPCC registram um crescimento de 0,6 graus Celsius na temperatura dos últimos 100 anos.

O efeito estufa é resultante, entre outros fatores, do lançamento de gases poluentes na atmosfera, como o gás carbônico e o metano, liberados principalmente pela ação humana em atividades como transporte, geração de energia e desmatamento, que cresceram significativamente desde a Revolução Industrial.

Uma das consequências mais drásticas do aquecimento global é o derretimento pouco a pouco das calotas polares, camadas de gelo que cobrem os polos Sul e Norte (pontos extremos da superfície terrestre). O fenômeno também é observado em cadeias de montanhas como os Alpes, os Andes e o Himalaia.

O Ártico está se aquecendo duas vezes mais rápido que a média de aquecimento do planeta. No passado, a cada inverno, o gelo marinho preenchia quase toda a bacia ártica, e uma parte dele se derretia durante o verão. Agora a maioria dos cientistas acredita que o Ártico ficará totalmente livre de gelo durante o verão até 2020. O declínio sem volta dessas camadas é inevitável.

Já a Antártica está esquentando cinco vezes mais do que em outras partes do mundo. Dados indicam que de 1992 a 2011, as calotas polares da região perderam 1.320 bilhões de toneladas de massa de gelo por ano. A Nasa aponta que na região do Mar de Amunden, placas de gelo começaram a derreter num ritmo acelerado e irão desaparecer por completo em algumas centenas de anos.

As geleiras polares têm mais de mil metros de espessura e desmoronam porque a água quente do oceano entra por baixo dos blocos de gelo, fundindo as ligações com a rocha. A neve derretida expõe o gelo que estava nas profundezas, que absorve os raios do sol e aumenta o derretimento. Um fenômeno puxa outro. O mar absorve mais calor do sol quando aberto que quando refletido numa superfície coberta de gelo, o que agrava o fenômeno do aquecimento. A água quente fica com um volume maior do que a água fria, ajudando a aumentar o volume do mar.

Um dos maiores perigos do derretimento seria a liberação dos imensos depósitos de gás metano que se encontram embaixo do Oceano Ártico. Esse gás foi gerado pela decomposição de matéria orgânica há milhões de anos (em períodos em que a Terra esteve mais quente) e esteve aprisionado sob a camada no fundo do mar durante todo esse tempo, como se o gelo fosse uma “tampa”.

O metano é um gás de efeito estufa de efeito vinte vezes maior do que o gás carbônico (CO2). Gigantescos depósitos de metano localizados embaixo da camada de gelo já começaram a vazar na costa da Sibéria. Cientistas acreditam que a liberação do gás metano, no passado, possa ter sido o responsável por dramáticas mudanças no clima que levaram a extinção em massa de espécies. Lançado na atmosfera, todo esse metano pode incrementar de forma exponencial o aquecimento global.

Com o derretimento das calotas, haveria uma elevação do nível do mar. No século 20, o nível já subiu 25 centímetros. Segundo a Nasa, o nível do mar está aumentando em uma média de três milímetros por ano. Cientistas estimam que ao longo dos próximos 100 anos, se acontecer um aumento de 3 graus na temperatura, o mar terá subido de 1 metro a 10 metros. Caso as calotas derretam completamente nos próximos séculos, o nível da água subirá em inacreditáveis 67 metros, o equivalente à altura de um prédio de 23 andares.

Essa variação traria a erosão e o alagamento de áreas de terra firme. Isso significa que ilhas e cidades litorâneas seriam totalmente inundadas. A população mundial que vive junto ao mar é estimada hoje em um bilhão de pessoas. Comunidades costeiras ficariam debaixo d´agua, criando fortes prejuízos financeiros e forçando a população a se deslocar para outras áreas.

Outro problema do derretimento do gelo seria um afluxo de água doce muito grande nos oceanos, podendo gerar desequilíbrios na salinidade desses sistemas, afetando a fauna e flora marinha. No Brasil, ecossistemas como restingas, lagunas e manguezais poderão ser drasticamente alterados. Manguezais, por exemplo, são berçários de vida marinha e funcionam como barreira natural para ondas e ressacas.

A dessalinização vai tornar as águas mais doces e menos densas. Uma das consequências é o desequilíbrio do ciclo hidrológico da Terra, como a alteração do sentido de algumas correntes oceânicas importantes como, por exemplo, a corrente do Golfo, que leva calor para o Hemisfério Norte.

No golfo do Alasca, a temperatura da superfície aumentou e mais água doce das geleiras derretidas está desaguando no mar. Essa camada mais leve e mais quente de água doce reduziu os componentes químicos no golfo, uma mistura que agora tem menos nutrientes para alimentar os pequenos organismos dos quais os peixes dependem.

As águas mais quentes também estão afetando a saúde dos corais, que abrigam uma enorme diversidade de peixes. Em diversos pontos do planeta corais estão passando por um fenômeno de “branqueamento”, resultado da perda da bactéria simbiôntica que vive nos tecidos dos corais e que são fundamentais para sua saúde, já que liberam compostos orgânicos nutritivos. Esses microrganismos seriam muito sensíveis à poluição e altas temperaturas.

Sobrevivência das espécies

A mudança climática é uma das maiores ameaças para a sobrevivência de espécies de plantas e animais. As espécies que vivem nas camadas polares já estão enfrentando uma batalha pela sobrevivência.

Animais de grande porte como ursos, pinguins, morsas e focas já estão perdendo o seu território com o derretimento de geleiras. Sem o gelo para caçar, descansar e se reproduzir, a existência de muitos mamíferos está em risco. E nos mares do Hemisfério Norte, o aumento da temperatura da água resultou no declínio do número de cardumes de peixes de águas frias, como o bacalhau, o peixe branco, o salmão e a truta, fundamentais para a economia pesqueira de muitos países.

Cada espécie de peixe tem uma temperatura na qual melhor se adapta. O bacalhau, por exemplo, morre quando as temperaturas sobem apenas alguns graus acima de zero. Em água fria, o metabolismo de um peixe fica mais lento. Em água mais quente, o metabolismo se torna mais rápido, o que exige mais comida. Em muitos casos, peixes de grande porte (mais comuns em águas geladas) podem morrer de fome.

Se a água esquentar, os peixes também correm o risco de não ter oxigênio suficiente dissolvido na água. Isso porque a quantidade de oxigênio dissolvida na água diminui quando a temperatura aumenta. Para piorar, a reprodução de muitos peixes é menor numa temperatura em elevação, e alguns podem ficar impedidos de procriar.

Para sobreviver e evitar a extinção, os animais poderiam migrar para outros locais ou se adaptar. Porém, com a mudança climática em um ritmo acelerado, não existe tempo suficiente para a espécie se adaptar, o que poderia levar milhares de anos. Além disso, o processo de migração é difícil, já que existem cada vez menos áreas naturais e morar em um lugar novo pode implicar em competição com outros predadores, o que afetaria todo o ecossistema.

Mudanças nas chuvas

Cientistas avaliam que quanto mais elevada é a temperatura global, maior será a evaporação da água do mar. Esta progressiva evaporação aumentará por sua vez as precipitações pluviais, porque a atmosfera não tem capacidade para sustentar tanta água. Ou seja, aumenta a quantidade de vapor presente na atmosfera.

A mudança de maior impacto será uma alteração nos padrões de chuvas. Pesquisas mostram que recentes ondas de eventos extremos já estão ligadas às transformações do clima, como chuvas torrenciais, nevascas e secas intermináveis.

No Brasil, cientistas avaliam que as chuvas se tornarão mais fortes e frequentes na região Sul e Sudeste. O aumento da quantidade de vapor na atmosfera pode aumentar a incidência de raios. Já no Nordeste e no Centro-Oeste, a tendência é que o cerrado e o semiárido fiquem ainda mais quentes e as secas mais intensas.

Novas áreas habitáveis

Se por um lado alguns países perderiam território em inundações, lugares de países nórdicos ficariam mais habitáveis.

No hemisfério Norte, a Groenlândia derreteu num ritmo acelerado, perdendo 152 bilhões de toneladas. Num cenário de aumento de temperatura, a Groenlândia se tornaria uma ilha com clima temperado, o que permite a ampliação das áreas agricultáveis onde antes era inviável plantar devido ao gelo.

Pensando nisso, alguns países já encaram a situação sob a perspectiva de novas oportunidades econômicas. No Ártico, a aposta é que o degelo torne mais fácil o acesso a ricas reservas de gás, petróleo e minérios que estavam estocados debaixo das camadas, criando novas rotas comerciais para a indústria da energia. Esses recursos farão com que o Ártico, antes visto como uma região estéril e inóspita se torne uma nova fronteira na política externa de países.

Como combater o aquecimento global?

Como se adaptar a um mundo mais quente? Em mudanças climáticas, as ações de “adaptação” têm foco nas consequências do processo, como criar projetos de geração de renda para populações afetadas por desastres ambientais. Já as ações de “mitigação” procuram minimizar as causas do processo, como reduzir as emissões de gases poluentes.

A primeira medida é que os países industrializados precisam reduzir suas emissões de CO2. Cada país terá de reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis e caminhar para um modelo de energias renováveis limpas, como eólica e solar.

Em dezembro de 2015, durante a Conferência do Clima da ONU (COP 21)?, foi aprovado o primeiro documento internacional em clima com compromissos de redução de emissões para todos os países. ??

O acordo do clima produzido em Paris define como a humanidade combaterá o aquecimento global nas próximas décadas.  Sua entrada em vigor está prevista para 2020, sucedendo o Protocolo de Quioto, aprovado pela ONU em 1997 com metas de redução para os países ricos, mas que nunca conseguiu ser eficiente.

Os países deverão se mobilizar para conter o aumento da temperatura média do planeta neste século bem abaixo dos 2 graus com relação aos níveis pré-Revolução Industrial, além de fazerem o possível para reduzir ainda mais esse limite, para 1,5 graus.

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