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Dicas de Português | Pegadinha Gramatical
Por Dílson Catarino
"UDR anunciou que vai entrar na Justiça com pedido de prisão ..."

Atualizada em 2 de julho de 2009

"UDR anunciou que vai entrar na Justiça com pedido de prisão do líder do MST, que acusa de incentivar a violência."

Tenho certeza de que você, caro internauta, estranhou a frase apresentada, pois, à primeira vista, parece que "o líder do MST acusa alguém de algo". Lendo a frase até o fim, chega-se à conclusão de que não é essa a informação passada pelo autor da frase, e sim que "a UDR acusa o líder do MST de incentivar a violência".

A ambiguidade ocorre em decorrência do uso do pronome relativo "que", subordinado a um verbo sem preposição. Antes de continuar a analisar a frase apresentada, vamos estudar um pouco sobre os pronomes relativos.

Pronome relativo é o que retoma o elemento imediatamente anterior a ele, relacionando-o sintaticamente com o verbo imediatamente posterior a ele. Participa de período composto por, no mínimo, dois verbos, que se relacionam com o mesmo elemento. Por exemplo:


Outro exemplo:

  • "José Dirceu, que estava muito prestigiado, parece enfraquecido". Há dois verbos no período ("estar" e "parecer"); ambos se relacionam com o mesmo elemento, "José Dirceu": "José Dirceu estava muito prestigiado" e "José Dirceu parece enfraquecido". O "que" da frase é, então, pronome relativo. Ele retoma o elemento anterior a ele (José Dirceu), relacionando-o sintaticamente com o verbo posterior a ele (estava): "que = José Dirceu": "que estava muito prestigiado = José Dirceu estava muito prestigiado".

    Muito bem. Voltemos agora à frase apresentada:

    "UDR anunciou que vai entrar na Justiça com pedido de prisão do líder do MST, que acusa de incentivar a violência".

  • "UDR anunciou que vai entrar na Justiça com pedido de prisão do líder do MST, que acusa de incentivar a violência".

    Poderíamos modificar um pouquinho a frase para entendermos melhor a explicação:

  • "UDR anunciou que vai entrar na Justiça, pedindo a prisão do líder do MST, que acusa de incentivar a violência".

    O trecho que nos interessa é "...pedindo a prisão do líder do MST, que acusa de incentivar a violência". Há dois verbos no período ("pedir" e "acusar"); ambos se relacionam com o mesmo elemento, "o líder do MST": "pedindo a prisão do líder do MST" e "o líder do MST acusa (alguém) de incentivar a violência".

    Tudo OK? NÃO!! Aqui é que reside o problema. Na realidade, o pronome "que" retoma o elemento anterior a ele (o líder do MST), mas não indica que ele "pratica" a ação de "acusar alguém", e sim que ele "sofre" a ação: "O líder do MST é acusado de incentivar a violência" por quem? Pela UDR: "A UDR acusa o líder do MST de incentivar a violência".

    O verbo "acusar" é denominado "verbo transitivo direto", aquele que indica que um elemento sofre a ação praticada pelo sujeito. Esse elemento é chamado de "objeto direto". O verbo transitivo direto não possui preposição, o que, muitas vezes causa dificuldade na interpretação.

    O verbo "vencer", por exemplo, é transitivo direto. Se escrevermos "Venceu o Corinthians o Santos", não haverá clareza quanto a quem venceu a partida. Para se evitar a ambiguidade pode-se fazer o seguinte:

  • Pode-se colocar a oração na ordem direta: "O Santos venceu o Corinthians".
  • Pode-se colocar preposição no elemento paciente: "Venceu ao Corinthians o Santos".
  • Pode-se, ainda, colocar a oração na voz passiva: "O Corinthians foi vencido pelo Santos".

    Na frase apresentada, o modo como foi usado o verbo "acusar" e a distância entre este e o seu sujeito, "UDR", causaram a ambiguidade. Para desfazê-la, pode-se estruturar a oração na voz passiva:

    "UDR anunciou que vai entrar na Justiça com pedido de prisão do líder do MST, que é acusado de incentivar a violência."

    Ou pode-se trocar o pronome "que" pelo pronome "quem" antecedido da preposição "a":

    "UDR anunciou que vai entrar na Justiça com pedido de prisão do líder do MST, a quem acusa de incentivar a violência."
  • Dílson Catarino leciona gramática na 3ª série do ensino médio e no cursinho pré-vestibular do Colégio Maxi, em Londrina (PR). Veja outras dicas de gramática no site do professor.

    E-mail: dilsoncatarino@uol.com.br
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    THAÍS NICOLETI
    Consultora de língua portuguesa do Grupo Folha lista os erros mais comuns
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