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Unicamp: prova de literatura exigiu mais do que a leitura de resumos

14.jan.2018 - Candidatos fizeram a primeira prova da 2ª fase neste domingo - Luciano Claudino/Codigo19/Agência O Globo
14.jan.2018 - Candidatos fizeram a primeira prova da 2ª fase neste domingo Imagem: Luciano Claudino/Codigo19/Agência O Globo

Bruno Aragaki

Colaboração para o UOL, do Rio

14/01/2018 20h17

Com 12 obras na lista de leituras para o vestibular 2018, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) apresentou uma prova, neste domingo (14), para a qual apenas a leitura dos resumos --usados por muitos vestibulandos na preparação-- não era suficiente para responder às três questões de literatura. A análise é de professores e estudantes ouvidos pelo UOL.

“O rigor das perguntas não permitia que alunos com um conhecimento superficial das mesmas produzissem boas respostas”, disse Celio Tasinafo, do curso Oficina do Estudante, de Campinas.

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Em São Paulo, o professor Laudemir Guedes, do Objetivo, endossou a análise: “Um mero resumo não dava conta das questões”.

“Sabemos que é bastante puxado [ler todas as obras], mas este é um vestibular exigente. O que a universidade quer é selecionar candidatos que tenham também disposição para a leitura”, completou.

O professor explicou que, apesar de as questões de literatura transcreverem trechos das obras, era necessário estar familiarizado com o texto para responder, por exemplo, à questão de número 4.

“O candidato precisava recuperar na memória à qual momento do livro aquele extrato se referia para responder por que o espaço é caracterizado como ‘despido de brilho’”, disse Guedes, em referência a um trecho do livro do moçambicano Mia Couto.

A um ano de concluir o ensino médio, a estudante Vanessa Sellani, 16, fez a prova como “treineira” --modalidade em que o aluno não concorre a uma vaga, mas faz o exame para testar os conhecimentos. E, ao sair do exame, fez uma análise parecida com a dos professores.

“As questões do Mia Couto eram as mais complicadas. Aí, o livro realmente fez falta”, avaliou Vanessa.

“Tinha que ter lido pelo menos uma análise mais detalhada. Só com resumo, não dava”, concordou Poliana Santos, 17, candidata a uma vaga de engenharia mecânica.

O coordenador do curso Etapa, Marcelo Dias, explicou que se trata de uma estratégia deliberada. “O candidato que só lê o resumo tem informações pontuais. E de forma muito inteligente, a Unicamp faz questões que abordam aspectos que costumam escapar dessas sínteses”, avaliou.

Português complexo, mesmo sem gramática

Além de literatura, a prova de hoje trouxe também três questões de língua portuguesa, com foco na interpretação de textos.

“Muita gente acha que, por se tratar de uma prova que não cobra gramática a fundo, é fácil”, disse o professor do curso Anglo, Sergio Paganim. “Quando analisamos as notas dos alunos nesse tipo de prova, porém, verificamos que as médias não são tão altas”, avaliou.

As questões de português trouxeram trechos de diferentes gêneros textuais --um verbete, uma entrevista e um texto argumentativo. “Saber apreender o significado de diferentes textos é um conhecimento essencial para qualquer carreira que o candidato pretenda cursar”, disse Paganim.

Abstenção

Segundo dados da organizadora do vestibular da Unicamp, a Comvest, a prova de abertura da segunda fase deste ano teve um índice de abstenção (11,3%) maior do que o registrado em 2017 (10%). Dos 15.461 convocados para a prova de hoje, 1.749 deixaram de comparecer.

Fortaleza, um dos locais de prova fora do Estado de São Paulo a aplicar o vestibular da Unicamp este ano, teve a maior proporção de ausentes: 32,1%. Já Campinas, onde está a maior parte das instalações da universidade, teve 9% de abstenção.

O vestibular da Unicamp prossegue nos próximos dias, com provas de história, geografia e matemática na segunda-feira (15); e biologia, química e física, na terça-feira (16). O primeiro resultado será divulgado em 9 de fevereiro.