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"Pop", interdisciplinar e exigente: professores analisam prova da Unicamp

Candidato aguarda a abertura dos portões para a prova da Unicamp neste domingo (19) - Denny Cesare/Estadão Conteúdo
Candidato aguarda a abertura dos portões para a prova da Unicamp neste domingo (19) Imagem: Denny Cesare/Estadão Conteúdo

Bruno Aragaki

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/11/2017 04h00

Encarar um texto sobre a Segunda Lei de Newton em inglês, analisar jargões do universo dos jogos eletrônicos e avaliar as consequências do Brexit. Esses foram alguns desafios trazidos neste domingo (19) pela primeira fase da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), classificada por professores dos cursinhos ouvidos pelo UOL como mais "pop", interdisciplinar e exigente do que nos anos anteriores.

"A Unicamp misturou disciplinas e trouxe temas atuais, ficou mais 'pop'. Mas isso não quer dizer que a prova tenha sido mais fácil. Pelo contrário, era necessário ter conhecimentos sólidos", resume Vera Lúcia Antunes, coordenadora do Curso e Colégio Objetivo, responsável pelo gabarito extraoficial e pela correção online disponíveis no UOL.

"Foi uma prova exigente, que mostra que tipo de aluno a Unicamp quer: antenado, com boa bagagem cultural, que sabe analisar e comparar informações", opinou o coordenador do curso Anglo, Daniel Perry.

O coordenador do curso Oficina do Estudante, de Campinas, destacou uma questão em que o aluno precisava aliar conhecimentos de química e de história para chegar à resposta correta. "Era preciso mobilizar conteúdos de áreas diferentes, o que torna essa uma das melhores provas dos últimos anos da Unicamp", avaliou.

Para o coordenador do curso Etapa, Edmilson Motta, ao misturar disciplinas “a prova mostra a utilidade dos conhecimentos. Por exemplo, o aluno percebe que saber outra língua vai ser útil para sua vida acadêmica”, diz, citando também a questão em que era preciso compreender folhetos em inglês para analisar a questão dos banheiros para pessoas transgêneros.

Humanas e português mais difíceis

Na contramão das expectativas de muitos professores e alunos, as provas mais difíceis, este ano, não foram as de ciências exatas ou naturais. História, português e inglês foram classificadas como as “vilãs” da Unicamp 2018.

"Houve um grau de exigência que não se via há muito tempo”, diz o professor de história do Objetivo, Vinicius Carneiro, sobre as questões relativas à sua disciplina. Ele aponta a presença de referências “sofisticadas” para alunos do ensino médio como um dos principais desafios aos candidatos.

"A questão 21 (prova Z), por exemplo, pediu a aplicação do conhecimento centro/periferia em um contexto medieval, o que que pode ter causado estranheza para alguns”, diz.

Perry, do curso Anglo, endossa a análise: “Foi uma prova de história difícil, bastante acadêmica”.

Unicamp - Denny Cesare/Código 19/Estadão Conteúdo - Denny Cesare/Código 19/Estadão Conteúdo
Candidatos esperam abertura dos portões do campos da UNIP, em Campinas
Imagem: Denny Cesare/Código 19/Estadão Conteúdo

Já nas questões de português, o professor Laudemir Guedes, do curso Objetivo,  chama a atenção para a quantidade de leitura exigida. “Das 12 obras de literatura recomendadas, de fato, foram cobradas 7. É um número bastante elevado, ainda mais porque não bastava ter lido resumos. Pediram também contexto histórico, análise crítica”, diz.

Candidata a uma vaga no curso de enfermagem, Yemize Simão, 20, também se queixou de questões de geografia. "Quando eu vi uma pergunta sobre o relevo da Rússia eu fiquei sem palavras", disse. "Era possível responder por eliminação", diz o professor Edmilson Motta.

"A alternativa A trazia Anatólia, que fica na Turquia; a alternativa B falava de Decã, na Índia; a C falava dos Balcãs, que fica mais ao oeste; então só restava a alternativa D", explica.

Criatividade

Os professores ouvidos pelo UOL elogiaram a abordagem de diversas questões da prova. Em física, por exemplo, o candidato teve que desafiar o senso comum e perceber que, se os icebergs derreterem, o volume da água, na verdade, diminui.

“Se os icebergs derreterem, o volume de água não aumenta, porque é água que já está ali naquele sistema. O problema para o nível dos oceanos, na verdade, é o derretimento das geleiras que estão sobre a terra. Essa água, sim, pode correr para os oceanos e aumentar o nível dos mares”, explica Ricardo Beludoca, professor de física do Objetivo, que aponta a alternativa B como a correta para essa questão.

Próximos passos

O gabarito oficial da Unicamp será divulgado na próxima quarta-feira (22). Em 11 de dezembro, a instituição publica a relação de convocados para a segunda fase, aplicada entre 14 e 16 de janeiro de 2018.

Em 8 de fevereiro, será conhecida a primeira lista de aprovados para as 3.340 vagas oferecidas pela universidade.