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PUC-Rio
Vestibular 2006 - questões discursivas02/12/2005
   REDAÇÃO - Todos os Cursos
   Prova realizada no dia 02/12//2005

 

Segundo pesquisa realizada com 403 entrevistados de 16 a 23 anos pelo Laboratório Unicarioca de Pesquisas Aplicadas, a pedido da Megazine e publicada no jornal O Globo, em 12/7/2005, "boa parte dos jovens (...) não parece levar ética a sério nos assuntos do dia-a-dia."

Dos jovens entrevistados, "34% admitem ter tirado dinheiro da carteira de pais, parentes ou amigos sem avisar, 8,92% nunca fizeram isso, mas não acham nada demais, e outros 22% nunca cometeram esse delito, mas conhecem pessoas que já o fizeram (...) 38% das pessoas ouvidas falsificaram a assinatura dos pais em algum documento ou correspondência da escola (...) e 21% já usaram a internet para difamar alguém."

Na opinião da psicóloga Teresa Creusa Negreiro, "Ao menos metade das pessoas que responderam que nunca agiram de tal maneira, mas conhecem gente que já, na verdade, fez aquilo ou está disposta a fazer."

De acordo com uma pesquisa do Pró–Saber (21/5/2001 a 8/6/2001), realizada a partir de entrevistas com 1002 alunos de escolas públicas e particulares do Rio de Janeiro, da 7ª série do fundamental à 3ª série do Ensino Médio, pode-se chegar "à visão de um adolescente que não trabalha (90,3%), que navega na internet se for da escola particular (50,5%), que tem amigos (94,4%) e que valoriza neles principalmente a solidariedade, a sinceridade, a lealdade, a cumplicidade, independentemente da classe social a que pertence."

Na fala da pesquisadora Rosiska Darcy de Oliveira, o adolescente "pousa na amizade como no mais sólido chão e faz dela o terreno onde brota o melhor de si: lealdade na adversidade, atenção à felicidade do outro, incondicionalidade em face de terceiros, franqueza na intimidade."

 

Nos trechos selecionados, adultos procuram conhecer o jovem com que convivem hoje em dia. Considerando todas essas visões sem, no entanto, copiar nenhuma, desenvolva, de forma objetiva e bem fundamentada, em um texto escrito em prosa, a sua concepção sobre os valores que orientam a conduta de pessoas jovens como você.

O texto a ser produzido deve ser um artigo de opinião a ser veiculado em um jornal da universidade e deve ter, aproximadamente, 25 linhas.

Dê um título criativo ao seu texto.




LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA (discursiva) - todos os cursos
Prova realizada no dia 02/12/2005
 


TEXTO 1

Várias situações que presenciei ao longo desses anos me fizeram refletir bastante sobre o melhor modo de analisar a racionalidade de uma cultura diferente da nossa no meu caso, de algumas nações indígenas brasileiras.(...) Minha primeira investida na busca da racionalidade waimiri-atroari foi com os silogismos. Iniciei explicando `como o branco pensa` (para eles os não-índios são denominados brancos, independente da raça), mostrando alguns silogismos clássicos e outros do cotidiano deles, como por exemplo: "Todo índio waimiri-atroari caça com arco e flecha, Marcelo é um waimiri-atroari, logo Marcelo caça com arco e flecha". Isto era mais que natural para eles, pois Marcelo é um professor waimiri- atroari e todos sabiam que ele caçava com arco e flecha. Quando solicitei que construíssem silogismos, obtive frases do tipo: "Todo waimiri-atroari pesca pirarucu, Pedrinho caça, logo Davi é casado". Todas as afirmações são verdadeiras, mas não seguem um caminho lógico para o silogismo. Acredito que o que significou para eles um silogismo eram verdades que conhecem. Foram incapazes de construir silogismos descontextualizados de suas realidades.
FERREIRA, Eduardo Sebastiani. Racionalidade dos índios brasileiros.
In: Scientific American Brasil. Etnomatemática, nº 11, pp.90-93.
Questão 01 (valor: 2,0 pontos)

a) Explique por que os índios waimiri-atroari foram considerados incapazes de construir silogismos.

b) Reescreva o período "Todas as afirmações são verdadeiras, mas não seguem um caminho lógico para o silogismo" usando um conectivo de subordinação que indique concessão.
   
Respostas:
a) Os índios entendiam silogismos como uma seqüência de fatos reais e não como uma seqüência lógica.

b) Embora todas as afirmações sejam verdadeiras, elas não seguem um caminho lógico para o silogismo.

Questões: 01 | 02 | 03 | 04 | 05 |



TEXTO 2

      Ao estudar a língua dos Hopi, no que hoje é o Arizona, Whorf observou que ela era privada de estruturas temporais. Os verbos, por exemplo, não tinham formas para designar eventos no passado. Mesmo as metáforas lingüísticas que criassem uma conexão entre espaço e tempo como "a certo ponto" ou "um longo período de tempo" inexistiam. Essa característica exercia efeitos decisivos sobre o pensamento dos índios: seria responsável por uma visão de mundo "atemporal".

      Essa tese da atemporalidade, porém, foi refutada. O lingüista Ekkehart Malotki descreveu em Hopi time as nuanças com que a língua consegue descrever o tempo. Há mais de 200 expressões hopi para o tempo (...) como ontem, hoje, cedo ou tarde, passando por períodos do dia, meses e estações do ano até um diferenciado sistema de suplementos verbais que permitem a descrição precisa de um curso de eventos. Porém, com sua visão errônea da língua Hopi, Whorf ironicamente proveu a melhor prova para a hipótese da relatividade lingüística. Provavelmente ele não descobriu as diversas definições de tempo porque procedeu sua análise a partir da visão de mundo e com as expectativas de um falante europeu.

JÄGER, Ludwig. A palavra cria o mundo. In: Viver. Mente e Cérebro, Agosto, 2005, ano XIII, nº 151, p. 51.
Questão 02 (valor: 2,0 pontos)

a) De acordo com a leitura dos textos 1 e 2, qual é o "melhor modo de analisar a racionalidade de uma cultura diferente da nossa"?

b) Na língua portuguesa, as formas verbais expressam, entre outras coisas, o "curso de eventos" no tempo. No primeiro parágrafo do texto 2, o futuro do pretérito tem outro emprego. Transcreva essa forma verbal, indicando seu emprego.

c) Reescreva o trecho "Provavelmente ele não descobriu as diversas definições de tempo", substituindo "provavelmente" por "é provável". Faça todas as alterações necessárias

   
Respostas:
a) O “melhor modo de analisar a racionalidade de uma cultura diferente da nossa” é encarar os fatos a partir do ponto de vista do outro.

b) No último período, a forma verbal “seria” indica hipótese.

c) “É provável que ele não tenha descoberto as diversas definições de tempo”

Questões: 01 | 02 | 03 | 04 | 05 |


TEXTO 3

Soneto 92 ambíguo
Glauco Mattoso

Quem quer a exatidão não é poeta.
Poetas têm o dom da ambigüidade.
A imagem pode ser falsa ou verdade,
depende só de como se interpreta.

O matemático é uma linha reta.
Filósofos duvidam da unidade.
Católicos têm fé numa Trindade.
Mas o poeta nunca se completa.

Quer no "duplipensar" do autor inglês,
quer seja o "VIVA VAIA" do concreto
ou triplo trocadilho, a dois por três,

Palavra de poeta não tem teto,
tem piso, onde rasteja este freguês
do pé perverso, meu pé predileto.

(MATTOSO, Glauco. In: http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/index.html )

Questão 03 (valor: 2,0 pontos)

a) Explique, com suas palavras, o que significa "duplipensar" no texto 3.

b) Por que se pode afirmar que o "Soneto 92 ambíguo" é um poema contemporâneo?
   
Respostas:
a) O “duplipensar” é pensar de duas maneiras diferentes, ou construir ambigüidades, ou utilizar afirmações de duplo sentido, com paradoxos etc.

b) O soneto de Glauco Mattoso é contemporâneo, o que se manifesta no recurso à metalinguagem (o poema trata do próprio fazer poético); no uso do humor (o trocadilho final brinca, ambiguamente, com a palavra “pé” – aludindo tanto à parte do corpo humano quanto à linguagem da métrica, o pé do verso); no tom coloquial e prosaico (o poeta rasteja no chão); no diálogo explícito com outros momentos literários por meio do recurso à citação (“VIVA VAIA” dos concretos).

Questões: 01 | 02 | 03 | 04 | 05 |


Questão 04 (valor: 2,0 pontos)

a) Indique quais são os referentes das expressões abaixo:
Essa característica (Texto 2, linha 3)
este freguês (Texto 3, linha 13)

b) Suponha que você tem de explicar para um estrangeiro como se formam os advérbios terminados em -mente em língua portuguesa. Os exemplos do quadro abaixo obedecem a dois padrões de formação. Descreva cada um desses padrões.
falso
falsamente
longo
longamente
natural
naturalmente
perverso
perversamente
simples
simplesmente
   
Respostas:
a) Essa característica (Texto 2, linha 3): o fato de a língua Hopi ser privada de estruturas temporais este freguês (Texto 3, linha 13): o poeta .

b) As palavras da direita são advérbios formados a partir de adjetivos. Há dois padrões de formação. No primeiro, o adjetivo terminado com a vogal -o passa para o feminino e recebe o acréscimo do sufixo -mente. É o caso das palavras “falsamente”, “longamente” e “pervesamente”. No segundo, o adjetivo terminado em consoante apenas recebe o acréscimo do sufixo. É o caso de “naturalmente” e “simplesmente”.

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TEXTO 4

Versos a um coveiro
Augusto dos Anjos

Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!

Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!

Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!

(ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978)
Questão 05 (valor: 2,0 pontos)

a) Os versos de Augusto dos Anjos (1884–1914) já foram considerados "exatos como fórmulas matemáticas".

(ROSENFELD, Anatol. A costeleta de prata de A. dos Anjos. Texto/contexto, São Paulo: Perspectiva, 1969, p. 268).

Justifique essa afirmativa, destacando aspectos formais do Texto 4.

b) Transcreva de "Versos a um coveiro" palavras e expressões científicas, estabelecendo um contraste entre o poema de Augusto dos Anjos e a tradição romântica, no que se refere à abordagem da temática da morte.
 
Respostas:
a) A precisão matemática pode ser observada no rigor formal que estrutura o poema: a forma clássica do soneto (14 versos, 2 quartetos, 2 tercetos); e métrica e rimas regulares (predominância de versos decassílabos; nos quartetos as rimas obedecem ao esquema abba – rimam as últimas palavras do primeiro e quarto versos e as do segundo e terceiro versos – e nos tercetos, o esquema é aab ).

b) O poema faz uso de palavras e expressões do campo semântico da matemática (“algarismos”; “silogismos”; “aritmética”; “progressão dos números inteiros”; “Pitágoras”) e da biologia (“Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros”). O emprego de termos técnicos racionaliza a morte, tratada como realidade objetiva, quantificável, sem mistificação. Tal perspectiva contrasta com o sentimentalismo e subjetivismo da tradição romântica, que idealiza a morte como evento transcendental.

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