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"Por ser ingerido diariamente, não é preciso calcular ..."

Atualizada em 03/02/2015, às 16h19

Por Dílson Catarino*:

"Por ser ingerido diariamente, não é preciso calcular quando ter relação (os outros remédios exigem um tempo para fazer efeito)."

Nessa frase, retirada de uma reportagem sobre um produto eficiente contra a impotência, em uma das revistas mais conhecidas do Brasil, há uma inadequação gramatical aos padrões cultos da Língua Portuguesa muito comum em conversas informais. O cidadão que se orgulha de usar a língua padrão ou que necessita de escrever textos técnicos, como ocorre com o vestibulando que tem de redigir uma dissertação argumentativa, deve ficar atento para não cometer esses deslizes.

O problema se situa na utilização do verbo "ter". Na frase apresentada, ele está conjugado no infinitivo não flexionado. Deveria estar, porém, no futuro do subjuntivo. Somente os verbos regulares - aqueles que não sofrem mudanças no radical - têm forma idêntica no infinitivo não flexionado e no futuro do subjuntivo. Este (o futuro do subjuntivo) participa de orações iniciadas pela conjunção "se" (condição hipotética futura) ou pela conjunção "quando" (tempo hipotético futuro); aquele (o infinitivo não flexionado), participa de orações iniciadas por uma preposição (por, para, a, até, de, em, com, sem...). Por exemplo:

  • "Era para eu estudar." - verbo estudar no infinitivo não flexionado.
  • "No momento de eu estudar, tive um problema." - verbo estudar no infinitivo não flexionado.
  • "Se você estudar essa matéria, aprenderá." - verbo estudar no futuro do subjuntivo.
  • "Quando você estudar essa matéria, avise-me." - verbo estudar no futuro do subjuntivo.

Os verbos que sofrem mudanças no radical não têm a mesma forma no infinitivo não flexionado e no futuro do subjuntivo. Aquele (o infinitivo não flexionado) é o próprio "nome do verbo"; este (o futuro do subjuntivo) deriva da terceira pessoa do plural (eles) do pretérito perfeito do indicativo (ontem...), retirando-se a terminação "-am". Por exemplo:

  • "Era para eu ter mais coragem naquele momento." - verbo ter no infinitivo não flexionado.
  • "Ontem eles tiveram coragem." - verbo ter na terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo. Retirando-se a terminação "-am" dessa pessoa, forma-se a base para o futuro do subjuntivo do verbo "ter": "tiveram - am = tiver". Então:
  • "Se eu tiver coragem..." ou "Quando eu tiver coragem...".

A conjugação completa é a seguinte:

  • quando eu tiver,
  • quando tu tiveres,
  • quando ele tiver,
  • quando nós tivermos,
  • quando vós tiverdes,
  • quando eles tiverem.

A frase apresentada é estruturada com o verbo "ter" antecedido da conjunção "quando" indicando tempo hipotético futuro. Este, então, deveria estar no futuro do subjuntivo: "tiver"

"Por ser ingerido diariamente, não é preciso calcular quando tiver relação (os outros remédios exigem um tempo para fazer efeito)."

*Professor de gramática da língua portuguesa, literatura e redação, desde 1980.