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"Me inclui fora dessa"

Atualizado em 29/01/2015, às 18h33

Por Dílson Catarino*:

"Me inclui fora dessa." 

Essa frase já foi manchete de uma das revistas mais respeitadas do Brasil. Há três inadequações gramaticais nela: colocação pronominal, uso do imperativo e semântica.

Quanto à colocação pronominal, o que ocorre é que não se deve iniciar frase com pronome oblíquo átono. Não se deve, então, escrever "Me inclui...", e sim "Inclui-me...".

Quanto ao imperativo, que é a indicação de ordem, pedido ou conselho, o que ocorre é que na reportagem da revista, o jornalista em todo o discurso, trata o leitor por "você", e o verbo "incluir" está conjugado na segunda pessoa do singular (tu). Esta pessoa (tu) é conjugada no imperativo afirmativo, a partir do presente do indicativo, retirando-se a letra "s".

O presente do indicativo de "incluir" é assim conjugado: eu incluo, tu incluis, ele inclui, nós incluímos, vós incluís, eles incluem. Retirando-se a letra "s" de "tu incluis", teremos "Inclui algo, tu". O imperativo para "você" é conjugado a partir do presente do subjuntivo: que eu inclua, que tu incluas, que ele inclua, que nós incluamos, que vós incluais, que eles incluam. O adequado, então, para a frase apresentada é "Inclua-me...".

Quanto à semântica, que estuda o sentido das palavras e a interpretação das sentenças e dos enunciados, o verbo "incluir" é usado na frase apresentada inadequadamente, pois "incluir" significa "pôr algo dentro de". Como não é possível pôr algo dentro de fora dessa", não se deve usar "incluir", e sim seu antônimo "excluir". Como "excluir" significa "mandar para fora", não se deve, na frase apresentada, usar "fora". Usa-se, então, apenas o verbo. A frase apresentada, então, deve ser assim estruturada:

"Exclua-me dessa." 

*Professor de gramática da língua portuguesa, literatura e redação, desde 1980.