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"Governo é confuso e sem líder, diz oposição"

Atualizada em 02/02/2015, às 16h03

Por Dílson Catarino*:

"Governo é confuso e sem líder, diz oposição"

Essa frase foi título de uma reportagem de primeira página de um dos grandes jornais brasileiros. À primeira vista, não apresenta problema algum, não é mesmo? Parece estar tudo adequado ao padrão culto da língua. Aliás, a mensagem foi passada ao leitor. É o que importa, dizem alguns. Realmente é o que importa, mas a minha função, aqui, não é "corrigir" a imprensa, e sim mostrar aos estudantes a maneira ideal de se estruturar uma frase, a fim de que não se cometam equívocos em exames vestibulares, principalmente no momento de se redigir uma dissertação.

O internauta conhecedor do padrão culto já deve ter percebido a inadequação gramatical. Ela está no fato de se usar o verbo "ser" e a conjunção "e", que, como o próprio nome indica, une dois elementos coordenados, ou seja, dois elementos que se equivalem.

Se os elementos se equivalem, o verbo "ser" deveria relacionar-se a ambos, como, por exemplo, em "O Brasil é imenso e fértil". As duas qualidades pertencem ao Brasil: "ele é imenso" e "ele é fértil". Já na frase apresentada, não há como se estabelecer essa relação, pois, segundo a oposição, "o Governo é confuso", mas não se pode dizer que o Governo "é sem líder", já que o verbo "ser" indica qualidade permanente, e o verbo "estar", qualidade transitória. O Governo, então, "está" sem líder. Essa é a questão.

A frase, então, deveria ser estruturada com os dois verbos (ser e estar), ficando assim:

"Governo é confuso e está sem líder, diz oposição"

*Professor de gramática da língua portuguesa, literatura e redação, desde 1980.