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"Custei para entender o que ele dizia"

Atualizada em 8 de julho de 2009

"Custei para entender o que ele dizia!"

Eis uma frase comum nos mais diversos meios socioeconômicos e socioculturais do país (é isso mesmo, caro leitor interessado na língua portuguesa: "socioeconômico" e "sociocultural", sem hífen). Ouvimos diariamente "Eu custei..." , "Ele custou..."; será que voltamos à época da escravidão? Agora o leitor afirma: "Que pergunta mais tola essa!".

Realmente fiz uma simplória pergunta, mas o que sucede é que o verbo custar, segundo a norma culta da língua, que é o que nos interessa nesta coluna, só terá como sujeito uma pessoa, quando significar "ter determinado preço ou valor", portanto só se pode dizer "Eu custei..." e "Ele custou...", se houver a absurda ideia de venda de alguém.

Como, obviamente, a frase apresentada não possui esse significado, ela está inadequada ao padrão culto da língua, apesar de adequada à fala cotidiana.

O verbo custar, quando significar "ser difícil ou doloroso", será verbo transitivo indireto, exigindo a preposição a; terá como sujeito "a coisa, aquilo que é difícil ou doloroso", e terá como objeto indireto "a pessoa", que tanto poderá ser representada por um substantivo, como pelos pronomes oblíquos átonos me, te, lhe, nos, vos, lhes ou pelos pronomes oblíquos tônicos mim, ti, si, ele, ela, nós, vós, eles, elas, sempre acompanhados de preposição.

Deveremos dizer, portanto, se quisermos adequar-nos à norma culta, "Custou-me..." ou "Custou a mim..."; "Custou-lhe..." ou "Custou a ele...".

Observe que, à frente dessa estrutura, haverá um verbo no infinitivo ("entender", no caso apresentado). Apesar de estranho, é adequado dizer "Custou a mim entender".

A frase apresentada, então, deverá ser corrigida desta maneira:

"Custou-me entender o que ele dizia!"