Semana 11 Literatura
PUC-SP
Considere os dois fragmentos extraídos de Iracema, de José de Alencar.
I. Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela? Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano? Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora. Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.
II. O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil barco o filho e o cão fiel. A jandaia não quis deixar a terra onde repousava sua amiga e senhora. O primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra da pátria. Havia aí a predestinação de uma raça?
Ambos apresentam índices do que poderia ter acontecido no enredo do romance, já que constituem o começo e o fim da narrativa de Alencar.
Desse modo, é possível presumir que o enredo apresenta
Unicamp
O trecho abaixo foi extraído de Iracema. Ele reproduz a reação e as últimas palavras de Batuiretê antes de morrer:
O velho soabriu as pesadas pálpebras, e passou do neto ao estrangeiro um olhar baço. Depois o peito arquejou e os lábios murmuraram:
– Tupã quis que estes olhos vissem antes de se apagarem, o gavião branco junto da narceja.
O abaeté derrubou a fronte aos peitos, e não falou mais, nem mais se moveu.
(José de Alencar, Iracema: lenda do Ceará. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1965, p. 171-172.)
a) Quem é Batuiretê?
b) Identifique os personagens a quem ele se dirige e indique os papéis que desempenham no romance.
c) Explique o sentido da metáfora empregada por Batuiretê em sua fala.
Resposta:
a) Batuiretê é avô de Poti e Jacaúna. Foi guerreiro valente e chefe dos pitiguaras; depois de velho passou o poder da tribo para seu filho Jatobá, pai de Poti. Viveu sua velhice retirado e solitário nas matas.
b) Batuiretê dirige-se ao neto Poti, nobre guerreiro pitiguara, companheiro e amigo de Martim, que mais tarde foi batizado católico com o nome de Antônio Felipe Camarão. O primeiro nome se refere a Santo Antônio, pois ganhou o nome cristão no dia do santo. O segundo nome significa o poder real (domínio espanhol), e o último, a tradução de Poti para o português. Dirige-se também ao estrangeiro Martim Soares Moreno, guerreiro e colonizador português aliado dos pitiguaras e objeto da paixão de Iracema, com quem teve um filho, Moacir, símbolo da união das raças.,br> c) Batuiretê chama Martim de gavião branco e Poti de narceja (uma pequena ave), profetizando nesse paralelo a destruição total ou parcial da raça nativa pelos brancos.
PUC-SP
A próxima questão refere-se ao texto abaixo.
Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Esse trecho é o início do romance Iracema, de José de Alencar. Dele, como um todo, é possível afirmar que:
UFU-MG
Sobre Iracema, de José de Alencar, podemos dizer que:
1) as cenas de amor carnal entre Iracema e Martim são de tal forma construídas que o leitor as percebe com vivacidade, porque tudo é narrado de forma explícita.
2) em Iracema temos o nascimento lendário do Ceará, a história de amor entre Iracema e Martim e as manifestações de ódio das tribos tabajara e potiguara.
3) Moacir é o filho nascido da união de Iracema e Martim. De maneira simbólica ele representa o homem brasileiro, fruto do índio e do branco.
4) a linguagem do romance Iracema é altamente poética, embora o texto esteja em prosa. Alencar consegue belos efeitos linguísticos ao abusar de imagens sobre imagens, comparações sobre comparações.
Assinale:
Fuvest 1990
Em Iracema, Alencar procura aproveitar na linguagem elementos da cultura indígena para melhor exprimir a idéia de um mundo primitivo. Um desses elementos é o modo de medir a passagem do tempo. Como faz o romancista para marcar a passagem do tempo?
Resposta:
A passagem do tempo no livro Iracema é medida por fatores ligados a astros (Sol, Lua), deixando-se o calendário gregoriano de lado. Assim, o indicador cronológico é o nascer do sol, o surgir da lua e outros elementos naturais, como ocorre em várias passagens:
O sol, transmontando, já começava a declinar para o ocidente, quando o irmão de Iracema tornou da grande taba.
Três sóis havia que Martim e Iracema estavam nas terras dos pitiguaras, senhores das margens do Camocim e Acaracu.
O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil barco o filho e o cão fiel.
Essa demarcação cronológica acentua o tom mítico dos fatos narrados, superando a mensuração do tempo material.
Unicamp 1987
O relacionamento amoroso de Iracema e Martim pode significar mais do que aparenta; pode ser visto, do início ao fim, como representativo do processo de conquista e de colonização do Brasil. Como o romance Iracema representa esse processo?
Resposta:
Iracema, que Alencar subtitulava como uma "Lenda do Ceará", tem como fulcro a formação da nacionalidade, por meio da aproximação entre a civilização (representada pelo colonizador português) e a natureza (representada por Iracema - anagrama de América - que simboliza o elemento nativo, travestido no "Bom Selvagem" de Rousseau, e revestido de sugestões líricas do Atala de Chateaubriand). Moacir (= parido da dor), filho de Martim e Iracema é na utopia alencariana da formação da nacionalidade, simultaneamente, o primeiro homem americano, resultado do amálgama da natureza e da civilização. A morte da "Virgem dos lábios de mel", nesse contexto, representa a morte e/ou a dominação da natureza e do elemento nativo, para dar lugar ao novo homem da América, que Alencar idealizava como o mestiço.
Fuvest 2009
Em um poema escrito em louvor de Iracema, Manuel Bandeira afirma que, ao compor esse livro, Alencar:
"[...] escreveu o que é mais poema que romance, e poema menos que um mito, melhor que Vênus."
Segundo Bandeira, em Iracema: